literadura de viagens, dia 3

foster

shoa

oranienburg

neue

à alvorada seguia-se o desayuno em doses sobrenaturais, para compôr à cabeça o dia alimentar e fintar as bratwursts e a couve azeda. ao terceiro dia, a força, a simbologia, a única fila-pirilau de turistas que haveríamos de enfrentar ao longo da semana; se bem que de calibre para maricas, se nos lembrarmos das horas de espera para visitar precisamente o pavilhão da alemanha na saudosa expo mega ferreira 98. tratava-se do reichstag, imponente, já sem soldado soviético à ilharga, substítuído por uma cúpula de sir norman foster, aços e vidros, muito esta gente gosta de enxovalhar o estuque e o reboco, subida ao topo, recolher de vistas, é de arquitecto, sim senhor, e está na hora de zarpar até ao memorial que ocupa a zona à esquerda de brandenburgo, pilares de betão que evocam a Catástrofe, sobre os quais um grupo de jovens espanhóis cabriolam e saltitam, cheira-me que não entenderam a natureza do lugar, se o perceberam pior ainda, e rume-se então à zona do dom, que é como quem diz, a catedral de berlim, dissecada a partir do exterior que isso de pagar para entrar em templos é coisa a que oponho alguma resistência. toca então a desbravar o bairro do mitte, o complexo ocupado de oranienburgerstrasse, artes, copos e sobre-sobre-sobrecamadas de cartazes e graffitis, com categoria, após o que flanámos pelas cercanias de prenzlauer, bairro arraçado a campo de ourique com mais jovens, menos tóxicos, menos tios, mais artes, e uma pizzaria zapatista de classe, ou de classe zapatista, ordem dos factores indiferente, "due forni" de sua graça e preços ao nível do subtítulo cucina popolare impresso nos toalhetes. bandulho preenchido e toca a descer a torstrasse engalanada com poisos da ilustração underground, entre outras modernices, largar umas coroas, rumar mais a sul e encontrar a belíssima neue gallery, gentileza de mies van der rohe, privada da sua colecção por motivo de obras e outras ocupações. e aqui vem à liça o viajante frustrado, com os pés inchados e uma vontade de berrar boches do caralho que me esconderam os matisses, o que é vagamente (totalmente, vá) injusto. dê-se corda aos sapatos, retorne-se a alexanderplatz, perceba-se que berlim anda a fazer alguma coisa aos mendigos já que nunca estão à vista (e assustador é pensar que os há poucos). ao fim do terceiro dia desenvolvo uma nova teoria para o arranque da segunda guerra mundial: os alemães invadiram a polónia em busca de mulheres bonitas. da punk desenxabida e adolescente de liceu à matrona de cabelo à homem e ausência de formas passam parcos anos de salubridade e aqui o rapaz, que já cirandou por varsóvia, concorda que os nacional-socialistas tinham alguma razão.

avistamento de clone do dia: josé mourinho, mas em preto

2 comments:

Anonymous said...

Nós, por outro lado, não precisamos invadir a Polónia em busca das suas mulheres bonitas. Ao que julgo saber, contratamo-las para anunciar bilhas de gás compactadas.

P.S. - Mourinho, o Sr. 14 milhões direitos publicitários incluídos? Imaginem o homem a receber isto tudo aqui há uns anos em liras. Irra, que até chateia.

Eva Lima said...

Não é couve azeda mas sim fermentada. Não que saiba melhor por isso.