as palavras

As palavras são. Mas também dizem. Sobretudo aquilo que queremos aferir delas, na nossa interpretação muito pessoal, sobretudo quando refluxos de memória vêm ao goto, sobretudo quando vêm polvilhadas de infância e ou puberdade, sobretudo já parava com esta repetição de uma palavra em forma de casaco que aqui serve outros propósitos que não o de agasalhar.

 

Vem esta curta prosa a propósito do lançamento do último livro do Mexia, ali ao Incógnito, faz hoje uma semana. No dito - lançamento - veio à baila a palavra Gina, enquanto objecto significante de revista e de felicidade às mãos-cheias. E quem pertence a esta geração, bem como a outras imediatamente anteriores, nunca mais conseguiu isolar outras Ginas daquela em forma de revista, besuntada a papel couché e fotos de fazer inveja a uma grande angular. Conheço até uma muito querida (Gina), que explora um estabelecimento comercial no ramo da hotelaria, e que muito me custa enredar nestes baraços da memória selectiva.

 

E enquanto o Mexia falava na Gina, e agitava o canhenho editado pela Tinta da China com direito a Scorpions na fronha, eu pensava noutro vocábulo que vai não volta me assola a cabeça: pachacha. Palavra rude, significado truculento, suficiente para gerar um casus belli de mal-entendidos aqui na bloga. Sucede que eu não vejo a pachacha assim (abrenúncio) até porque tão desditosa laracha servia para designar um indivíduo que ganhou a alcunha num dia em que disputávamos uma partida de futebol em plena rua e uma rabanada de vento o levou a morder o pó, que é como quem diz, o alcatrão. O desgraçado chamava-se Carlos portanto havia muita gente que o tratava por "pachacha" com notório alívio. Era magricelas e fracote e logo algum génio do quase subúrbio que é a minha zona de criação o apodou com referências pouco subits à feminilidade.

 

E assim uma palavra guedelhuda é para mim motivo de sorriso e terna lembrança da puberdade em calções e ténis rotos da Fute, comprados no Guimarães da estrada de Benfica. Quanto a ordinarices ainda não estamos conversados, eu prometo.


texto publicado no, I kid you not, muito recomendável sinusite crónica.

8 comments:

Anonymous said...

numa conversa de mulheres, às tantas, alguém pergunta: na cama, o é que vocês dizem quando se referem ao "coiso"? Uma delas responde: Eu?! Digo... caralho. What else?

Anonymous said...

Na minha escola havia um tipo baixinho. chamavam-lhe minete, pois claro.

O Pombo said...

Grande Guimarães. O mais pequeno já fechou. Agora só há o grande. Estrada de Benfica forever!

Anonymous said...

Mas o livro do Mexia é um minete, será o próprio Mexia um minete???
Eu quero pedir as minhas desculpas, mas de vez em quando até eu que sou avesso à carneirada nas suas discussões, tenho de pedir que me expliquem.

Peço imensa desculpa Pedro, mas quem é esta gente toda que nos inunda todos os dias com a sua sabedoria, a sua superlatividade capaz de discutir desde pós-punk a paleontologia, passando pela paleografia gótica.

Desculpa Pedro mais uma vez, mas se calhar só tu me poderás dizer quem são eles. E quem mora na sua cabeça, na minha não faço a mais pequena ideia, porque se soubesse escrevia livros que fizessem lembrar aos outros minetes.

Um grande abraço Misantropo.

Menina Limão said...

Gina evoca-me o mesmo, engraçado. Ainda que não a mesma história. Gostaria de ter ouvido o Mexia falar na Gina, é a conclusão a que chego.

É sempre bom ler pachacha num blog*.


*num blog dos meus, entenda-se.

pedro vieira said...

sempre pronto a servir com garbo a clientela habitué

Umbelina Pimenta said...

Pachacha, Bairro do Charquinho,jogar futebol na relva e torturar o Romão nas canas?Será possível a mesma história?

Anonymous said...

O Pmexia é Untuoso e faz poesia Untuosa ... será porquê?