o Sol visto pelas minhas lentes # 3 e epílogo


a revista Tabu

a revista Tabu poderia chamar-se "for all the beautiful people", tamanha é a montra de caras larocas que campeiam no couché, mas acontece que aquele já é um título de um bom disco dos swell e assim como assim lembrar-nos-emos sempre do tabu de cavaco, ele próprio um Sol de portugal e por aqui se acabam os trocadilhos com o nome do jornal.
pelo mantra do cmyk/4 cores passa a casa de um senhor que mandou em macau, um japonês da lapa [mais sofisticado impossível], uma social-democrata kickboxer cujas paixões são marques mendes e os animais, não necessariamente por esta ordem, um quase quase presidente dos eua que canalizou os insondáveis desígnios de deus para a defesa dos pinguins, um jornalista a quem os pêlos tiram a vontade de fazer sexo oral, hás-de-me dizer quem são as tuas fontes, meia dúzia de damas rendidas à depilação integral que podem ter passado pelo cabeleireiro Charming em miraflores, uma entrevista à désainer-que-está-em-todas, alvo de muitos invejosos que se lhe referem como filha da guta, e ela a dizer que quando se é pequeno não se tem noção do que é ser pobre, os meninos do bairro do fim do mundo e da bela vista em setúbal também ainda não devem ter percebido, um destaque a uma família numerosa com "de" no nome e membros que são forcados, sendo tantos oxalá que não se peguem uns aos outros, uma história sheridan's de troca de bebés que mostra que o mundo pode ser a preto e branco, um saddam hussein de espingarda bem em riste o que faz supôr que os seus colegas de cela devem fazer depilação total, o passar da mão pelo pêlo de quem paga o couché ao saraiva num tríptico aço, farmacêutica e banca, no fundo pessoas que se dão ao luxo de ter filhos chamados rosarinho e barcos com 24 pés ou vice-versa, um artista plástico que se move de vespa mas ninguém fala na sua vertente de condutor de bentley, uma apresentadora de telejornais que treinou com os comandos mas que ainda assim prefere comédias românticas cheias de pixel.
além das personalidades apresenta-se a infalível rubrica de restaurante com pratos désaine, sem ser pela guta, com preçários a rondar o salário mínimo. há também uma crónica de um rapaz de boina que não é o che guevara do Sol, para isso anda lá o Portas, Miguel, crónica essa alicerçada no registo humorístico, o que não a diferencia assim tanto da escrita do Portas, Miguel, mas não há qualquer problema, algum dia alguém lhe explicará que o último tipo que quis ser o che guevara da europa acabou a fazer vídeos eróticos com a julie sergeant num programa da elsa raposo.
passa-se à rubrica o Sol da meia-noite, o trocadilho é deles, onde marca pontos a sentença "bar aberto é sempre sinónimo de contradições", aí temos mais um grande filósofo da actualidade. nesta secção ficamos também a saber que a mulher do ex-autarca fernando gomes se chama gina, o que é toda uma revista de promessas.
mais à frente uma flashada de viagem com bonitas fotos de calhaus, uma referência a relógios que são upa upa puxadote [o RAP que me desculpe o plágio da expressão], uma página de bd do meu mestre nuno saraiva, provavelmente o único tipo de esquerda do jornal, uma crónica em forma de pentágono de uma blogger, oxalá não lhe atirem com um 767 à paginação, e o fecho apoteótico com o crítico de cinema Portas, Paulo, o homem que recebeu a falsa dica da sopa fria, a citar as fodas do rei luis XVI, expressão minha, e a falar de um filme "que é um escândalo", expressão dele.

5 comments:

Ricardo Machado said...

Foi das minhas piores experiências "literárias" nos últimos tempos, este suplemento/revista. Sem sentido, superficial, a tresandar a preconceitos elitistas e não só. Sem falar no final...

blimunda said...

gostei tanto, tanto, tanto que até estou disposta a gastar mais 2 € no próximo sábado só para me rir e agradecer aos céus por ter decidido não ser jornalistas há uns anos atrás. ai é tão bok não tarbalhar numa redacção.

Kukas said...

Pedro... o Sol não merecia tamanha qualidade nos posts que lhe dedicas! Obrigada... a sério!

Anonymous said...

já tarde, mas em boa hora, caro irmãolucia, leio as suas apreciações sobre o sol. aqui ttem uma fã, mas podia ter explorado um pouco mais a pertinência da 'entrevista de vida' à pequena, singela e inocente guta, esse monstro do design em portugal: é insegura? seleciona as palavras criteriosamente? lollll atão porra??? a moça, que teve uma infância incrível, toca piano e fala francês!

Anonymous said...

Pois eu estava de passagem meteórica por Portugal. Não, não foi para o lançamento da coisa. Fica estarrecido. Independentemente da côr política do jornal parece-me um jornal de parede como faziamos no ciclo, cheio de boas vontades e muitos preconceitos. Não creio que este sol tenha um grande futuro, fora as salas de espera dos consultórios e os cabeleireiros da Linha. Chico da Popeline