quando a mole ululante de ciganas pergunta à minha mulher se tem um bom marido querem saber se eu lhe bato. e de facto não o faço. pelo menos à luz cigana sou um excelente partido.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
quando a mole ululante de ciganas pergunta à minha mulher se tem um bom marido querem saber se eu lhe bato. e de facto não o faço. pelo menos à luz cigana sou um excelente partido.
Publicada por pedro vieira em 3.12.06
1 comment:
Um tema extremamente doméstico. Mas Montesquieu já o tinha pensado de modo mais radical e com diferentes protagonistas:
"Ainda que os pais, no contrato de casamento de suas filhas, estipulem habitualmente que o marido não as chicoteará, contudo não se poderia acreditar quantas mulheres moscovitas gostam de ser espancadas: não podem compreender que possuam o coração do marido se ele não lhes bater como deve ser; uma conduta oposta da sua parte, é um sinal de indiferença imperdoável.
Eis uma carta que uma delas escreveu ultimamente a sua mãe:
Minha querida mãe,
Sou a mais infeliz mulher do mundo! Não há nada que não tenha feito para fazer com que o meu marido me ame e nunca o consegui. Ontem tinha mil coisas a fazer em casa; saí e andei todo o dia na rua. Acreditei, no meu regresso, que me iria bater muito; mas não disse nem uma palavra. Minha irmã é tratada de maneira bem diferente: o marido bate-lhe todos os dias; não pode olhar para um homem sem que ele a espanque logo. Amam-se muito assim e vivem no melhor entendimento do mundo.
É isto que a torna tão orgulhosa. Porém, eu não lhe darei por muito tempo motivo para me desprezar. Resolvi que serei amada por meu marido seja a que preço for; tão bem o farei enraivecer que terá mesmo de me dar provas de amizade. Não se dirá que me não baterão e que viverei em casa sem que se pense em mim. Ao menor piparote que me der, gritarei com todas as minhas forças, para que se imagine que ali tudo vai bem, e acho que, se algum vizinho viesse em meu socorro, o estrangularia. Suplico-lhe, minha querida mãe, que queira demonstrar a meu marido que ele me trata de maneira indigna. Meu pai, que é um homem tão honesto, não agia assim, e lembro-me, quaando era menina, que, assim me parecia, ele a amava muito.
Beijo-a minha querida mãe."
Desta tradução do livro Cartas persas de Montesquieu, da ed. Estampa, gosto especialmente da nota de rodapé referente à carta acima: Estes costumes mudaram.
Post a Comment