começa a desdita de 6ª feira ao poente na saída do metro da baixa-chiado, virada para o camões, onde vou vasculhar nas tralhas da loja bagatela, que já foi do euro e setenta, que já foi dos 300, é o que se pode chamar um certo tipo de ascensão social à minha moda, largo três euros e quarenta e dou corda aos all star roxos comprados em saldo na rua do carmo, mas isso é linha de outro novelo de passeata, desta vez desço a garrett, enfio pelo centro comercial e penetro na fnac como um militante de palas nas fontes, que é para não azedar os humores algures no binómio tanta-coisa-para-levar/a-minha-conta-bancária-faminta, desço à rua do crucifixo como convém a um irmaolucia, guino para a do ouro para aportar à casa chinesa, objectivo pão morno de fim de tarde e bica ao balcão com os pés a esbarrar com um caixote do lixo, como é meu apanágio, nem à mobília meto medo e tudo se me atravessa no caminho, sigo para a figueira, praça, pois que isso de macaquear em árvores nunca foi a minha praia, com temores de partir os óculos ou um bracito azelha, objectivo supermercado do bigodaças que ampara as frutas em saquinhos de plástico à discrição, mesmo por baixo da casa de tecidos critério onde já comprei com a minha mulher bonitos padrões para cobrir o sofá, isto na época em que desembolsava algum porque todos os meses havia salário à vista, quando não era dos tais quatrocentos e tal mil, quota licenciado, a memória da prosperidade é uma coisa lixada, à saída do super, com os coentros congelados na mala – e aqui não se trata de metáfora – observo o moço/aprendiz de bata branca que de forma clínica pendura cachos de bananas à grelha da porta, os pintas a mirar enquanto a mulher de vida tudo menos fácil que tagarela com ambos lança o seu sorriso de plástico domplex, mais à frente outra assobia para um conhecido a partir do interior de um casaco tigresse, promessa de outras selvajarias, eu acelero pelo rossio a dentro, passo pela ex-colónia espontânea que se constituiu no eixo dona-maria/praça de táxis/esquina da ginja sem igual a caminho dos restauradores, desacelero para ver o bouquet de livros em filinha pirilau que o ex-combatente do boné, doc martens e cachimbo expõe nos calcanhares do novíssimo balcão do santander, corto o devaneio, concentro-me nas despesas em bens mais essenciais, como aquele autocarro 9 [des]articulado que lá vem, mergulho de cabeça e lisboa viva e saio na paragem seguinte, sempre poupo as pernas a meia avenida, morar nas imediações de um par de fashion clinics só pode ser gozação e poupo forças para o que interessa, 59 degraus até ao quarto andar em registo de epílogo, é obra de monta e os 31 de pança feita, baldas à natação e absentismo do pontapé na chicha já ninguém mos tira.
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7 comments:
"Esta coisa" está cada vez mais de culto.Um autêntico vício à medida que aumenta o drama. Um abraço irmão, mas é mesmo assim. De Blogs cócos está o mundo farto. Bem hajas, posta prá frente brother.
Pedro Soares
isto é quase um pesadelo do tipo "um dia na vida de ...".
mal mal por mal, sempre é um privilégio raro fazer esse percurso. A pé ainda é grátis.
http://almocrevedaspetas.blogspot.com/
video fixe de uma musica do Zeca (versao), a ver...
Belo percurso esse que também era o meu até há pouco tempo. Um regalo para os olhos e mentes divagantes.
«nem à mobília meto medo e tudo se me atravessa no caminho»
nem mais.
:)
Costumava comprar croquetes na casa chinesa... pelo preço de um comia dois.
Brilhantíssimo irmão!
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