super rock, uma crónica

cumpriu-se o destino. tal como milhares, quiçá centenas de espectadores, lá rumei ao festival com nome de cerveja e atmosfera mais kindergarden das redondezas, com recinto desenhado para entreter suas adolescências enquanto uns tipos a quem a rapaziada festivaleira devota desprezo olímpico empunham uns intrumentos em palco, gordo, generoso, tal como as receitas previstas com entradas únicas a 40 euros, oito contos na moeda antiga, valor que nem me atrevo a revelar quanto representa em percentagem no meu salário de moço instruído para as novas oportunidades. a minha presença destacou-se desta vez por uma particularidade física – imbuído do meu espírito de cabeça de vento assuão lá deixei os meus óculos ditos normais em automóvel alheio, ficando apenas munido dos escuros, moschino, armação de griffe e graduada dos tempos em que rios do ouro passavam pelo meu nib [de prata, vá... de bronze ou até de um alumínio muito jeitoso para fazer talheres], pelo que tive de enfrentar o cerrar da noite com um sorriso forçado nos lábios e uma figura pública algures entre o ray charles um pouco mais mexido e alguém com uma doença ocular rara, merecedora de uma reportagem no toda a verdade. com bifana parcialmente sanguinolenta assente no bucho e os copos de plástico rentes de cerveja lá fomos vendo o desfilar da parfernália a partir dos klaxons, colectivo de rave rock evidentemente prejudicado pela luz do dia, que confere tão pouca mística a um evento musical como o uribe com a camisola do benfica. seguiram-se os magic numbers, espécie de banda herbalife a tentar fazer-se passar por uns yo la tengo que tivessem encarnado os piores espíritos da kelly family. e diabos me levem se não o conseguiram.
segue recto, não vira, para a malha dos bloc party, excelente concerto rock com entrega particular do nigga okereke e aqui permito-me discordar do piloto automático identificado pelo pedro, lanço a minha luva e se necessário for faremos um duelo de amplificadores marshall, o jovem pós-nigeriano deu algum litro, fez palheta de taxista com excepção óbvia do enxovalho aos pretos, sublinhou as medonhas figuras dançantes do andaime da optimus que me fizeram ter um súbito orgulho no meu vodafone, rodopiou entre braços das filas da frente e liderou bem a equipa east londoner, na qual o guitarra solo fez por lembrar a espaços um pequeno lee ranaldo entretido com os pedais e o baterista deu um show de epilepsia e pratos de choque, metronómico, cheio de breaks a beber no afrobeat, como se o próprio tony allen tivesse aspirado red bull quando conheceu o fela. fecharam a desdita com o helicopter, canção da minha preferência, o que acabou por ser uma cereja no topo do magnum preto que é okereke.
para encerrar o dia sobem ao palco os muito aguardados arcade fire, entrada em falso com black mirror enxovalhada por um som fraquinho fraquinho, como se estivessem a tocar debaixo de água num tanque do aquário vasco da gama, sendo necessário carregar no botão da lampreia para ver a descarga eléctrica de win butler, situação conhecida de todos aqueles que cresceram com viço nos fins de setenta, inícios de oitenta, o desenrolar do tapete sónico vai revelando faixa após faixa de neon bible e percebe-se a diferença destes evangelhos para funeral, porquê emborcar raposeira quando se podia beber mais möet, que veio mais à frente, com o sonoro a melhorar degrau a degrau mas a não evitar a amálgama do combo, feroz, empenhado mas com pouca oportunidade de fazer ouvir o violino da menina dengosa que fazia boquinhas ou as tubas dos homens lá de trás de forma distintiva, quem brilhou sempre alto foi régine chassagne, nome muito apetitoso de pronunciar e que tenho repetido abundantemente, fosse na faceta performer de quem não toca nada, algures entre uma peaches de laçarote no rabo e um bez dos happy mondays mas em menos pastilhado, fosse na pele de baterista uns furos acima de meg white que, como alguém anónimo [susana viegas] notava, toca como se tomada por uma paralisia irreparável. chassagne a ulular, a cantar delicodoce em francês, a berrar em registo cgtp ao megafone, fosse ela um carvalho da silva e as greves não paravam, nem que fosse para dançar ao som de no cars go a caminho de são bento, 35 horas semanais já!, o resto fica para ouvir canadianos que suam as estopinhas e desfrutar do cabelo banha-sicasal de butler, para ver o saracoteio do ruivo muito ruivo da bateria, cabelo de um tom que valeu a alcunha de labareda a um moço da minha criação na zona de benfica-cemitério, dizia então que esse moço andou às tropelias com um tambor e pandeireta acrobática, o próximo ISTuna é todo dele, pelo meio descobre-se que o quadrilátero crown of love-wake up-haiti-rebellion têm potencial para engrossar coros à guisa do futebol, assunto versado pelo próprio butler a propósito de viver entre gregos e portugueses em montreal, e o moço lá traz à baila a nossa chaga de 2004, estádio cheio e charisteas nas alturas, o nosso mais recente alcácer-quibir com a desvantagem de o novo dom sebastião não ter perecido na batalha nem rumado a um prostíbulo em agadir, tendo ficado na mesma aos comandos da selecção das quinas, marca de fósforos que insiste em queimar as nossas hipóteses de sucesso no pontapé na bola, mas regresse-se à música que é paladar mais à minha moda, há já imensos caracteres que não digo régine chassagne, passe-me aí o chassagne por favor, que a sopa está insossa, abasteça-me o carro com chassagne 95 se estiver para aí virado e eles não estavam, não estavam no mood de agraciar aqui o rapaz com a sua canção favorita, borrifaram-se na boa sorte que dá ajudar o ceguinho ou pelo menos o idiota que deixa os óculos no saxo, furtaram-se ao neighboorhood # 2 (laika) e a minha costela soviética a chorar, se ainda mandasse o georgiano dos bigodes não havia cá esquecimentos, assim façam lá as malas, obrigado pela performance mas contentinho, contentinho só fiquei quando recuperei as lentes transparentes, roçavam os relógios as duas da manhã.

5 comments:

Anonymous said...

obrigada pela observação participante. é muito divertido ter estas lentes carl zeiss para saber o que aconteceu no super concerto.

André Moura e Cunha said...

Ó camarada (podes imaginar o estado a que cheguei por ter de utilizar aquele vocábulo lá... da Georgia...),
Então os Interpol, que é o que interessa?
Bom, porventura... ainda não actuaram. Mas a minha preguiça consultadora internética não me permite confirmar essa situação.
Estás em forma, camarada (2.ª vez!)
Abraço

pedro vieira said...

camarada?? andré, tem lá calma, o que é que estás a fazer, a desgraçares o assim o teu capital de conservador respeitável?
quanto aos interpol não vai haver recensão, carteira curta obriga a escolhas e hoje vou mesmo é ver touaregues do mali. abraces

João Gaspar said...

meus caros,

metendo a colher em sopa alheia, Interpol foram um espectáculo. do melhor do festival. e voltam a Portugal em Novembro, se é que a informação é útil.

Anonymous said...

Interpol muito bons, nem se esperava menos, TV on the radio frenéticos, granda curtição, Scisor Sister bom intervalo para a malta ir jantar. Na 4ª, LCD Soundsystem do melhor, ai aquelas percussões, do melhor, Jesus a cheirar a mofo que tresanda, datadíssimos. E eu tenho 35 anos, atenção, não é uma questão geracional.