visita de rajada ao minipreço por necessidade absoluta de evitar a morte por inanição do lava-loiça, a quinquilharia que dois marmelos acumulam num passe de mágica [ela], num passo de elefante [eu], lá vou direitinho ao logótipo azul e vermelho retinto, quem lhes disse que estas cores casavam mentiu-lhes redondamente, por alguma razão clubes que vestem estas cores vêm à primeira divisão e nunca mais sobem, torreense, águeda, é só escolher hoplitas do fracasso, e aqui enfio a primeira referência à antiguidade clássica, que o meco não é absolutamente brutamontes, limita-se apenas a tecer loas ao hard discount e a entrar por ali a dentro. passada a cancela começam as decisões difíceis, evitar ficar nauseado pelo rótulo e conceito do alvini, sucedâneo do martini, é uma delas. enfio pelo corredor estreito de frente para a entrada, aliás, todos eles são estreitos até à quinta casa, expressão enigmática que muito me apraz, se fosse só até à quarta talvez passasse largo, assim temos de um lado um velho debruçado sobre os horto-frutícolas, do outro um bloco sólido de paletes de leite, muro de berlim das vacas mungidas deste portugal que me obriga ao primeiro roça-roça desta investida por um detergente, e eis que salta à liça a dúvida clássica: dou o cu ou os entrefolhos ao reformado?, coisa que se resolve respirando fundo com fé e confiança e sem porfiar muito no assunto, deixa-se a decisão nas mãos das parcas, outra referência à antiguidade e não às roupas favoritas do carlos silvino, sigo sem pestanejar, passo pelos cereais de pequeno-almoço, pelo pão marca cimpor, pelos azeites e outros óleos, abraço-me a uma de tinto à má fila, se até ao lavar dos cestos é vindima pense-se na saga que é o lavar de pratos, monte velho no sovaco, curva na esquina das fraldas e guardanapos, mão sapuda a pegar no concentrado milagreiro e rumo à caixa, recto. três filas à disposição, a decisão faz-me escorrer o suor da têmpora à gola da t-shirt, sinto só a falta do som do morricone neste ambiente de western spaghetti de marca branca, enlatado cinematográfico que também grita do fundo da antiguidade clássica, pelo menos eram feitos em roma por pessoas com menos dentição do que um legionário. como a lei de murphy é o meu nome do meio escolho a mais demorada, de um lado a preta maria josé a aviar cartuxo, do outro o manguela que é um misto de nódoas, stephen king e joey ramone a despachar a clientela em registo tgv. ou alfa pendular, vá. e eu na fila da anabela, mulher que aparenta ter parado com o cavalo imediatamente antes da implosão, teatral, brusca, gesticula em frente às teclas do registo, o karajan se fosse vivo que se cuidasse, de batuta percebe a anabela, ou pelo menos de agulha, que tem as mesmas vogais mas faz muito pior à dentição, entre outros acessórios que convém a gente estimar. enquanto a moça emperra a fila, a senhora da secção menopausa que está à minha frente vai esvaziando o cesto para o tapete rolante, deixa-o [ao cesto] prostrado aos meus pés à laia de casca de banana mas eu não me desconcentro, aliás, não tiro os olhos dela desde que começou a recitar um mantra com os talões de desconto que arranca do porta-moedas, mmmnmnnnnnrrrrgggg, deve ser assim que se faz nas madrassas mas com penteados muito melhores, quem lhe aconselhou essa cor de violino para a trunfa aparada deve ter alguma vendetta oculta contra si, o mantra serve para perceber os talões que servem e os que sobejam, entrega-os todos à anabela e procede para o fundo do alumínio para começar a ensacar, entretanto toca-lhe o celular, coisa que reforça em voz alta não fosse dar-se o caso de alguém ter ignorado o toque especialmente foleiro e eu entretanto avanço para o registo de dois produtos e cartão minipreço que levo agarrado às chaves de casa, tudo fácil sem precisar de saco a dois cêntimos, GATUNOS, enfio a garrafa e o detergente na mala, agradeço à anabela a atenção e os ademanes de maestra e cruzo-me com a senhora que ainda palra ao telefone com uma doutora, adepois a dótora diz-me as respostas que eu vou dar às perguntas que me hádem fazer, mas a minha atenção já se tinha dispersado, eu próprio tive direito a talão de desconto e lá no fundo, com benesse de 20%, ilumina-se a cerveja bohemia, rejubilo a pensar na ruiva engarrafada e às vezes penso que esta malta do minipreço me mima e me conhece como ninguém.
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4 comments:
fizeste-me chorar umas 3 ou 9 vezes, pá!...
excelente.
muito boa a referência ao karajan! :p
soltou-me uma gargalhada.
tava até gaja para te pedir em casamento. e olha que tenho máquina de lavar louça e tudo.
celente!
Vieira, és grande! Já tinha saudades tuas. Por culpa minha, claro!
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