pela A1 acima abaixo

fim-de-semana de visita aos minhos, para controlar o obrame da casa materna com empreiteiro à distância, mais esguio que um curdo depois de deitar fogo aos sapatos de um militar turco, quem diz a um diz a duzentos e depois é o forrobodó que se vê, na turquia como no verde minho, por estes dias solarengo e prazenteiro, propício ao encher de pança entremeado com tarefas práticas e dichotes de parar o trânsito. ou mesmo a procissão, que entre minhotos há mais andores que automóveis, oratórios, cruzes, basílicas e capelas, são bentinhos, terras com nome de Alívio, por um triz seria Ai Jesus, ou Já Vos Safásteis, Caralho e lá desbastámos um monumental bacalhau à narcisa, afogado em azeite e cebola frita, eu e mana a ganharmos o nome enfarte coronário imediatamente antes do vieira, ainda foi uma sorte sermos servidos depois de o meu cunhado armar ao herege da cidade e apelidar a terra de Delírio, o deboche trazido auto-estrada acima, sorte nossa que no norte ainda não há fatwas. au contraire, há é muitas fátimas, como a minha prima, há rosas, como a minha prima, há sameirinhas, como a minha prima, há velhas chamadas mariquinhas e a há a fina flor dos motéis apelidado de Bracancun, o que esta gente se pela por um bom nome, arrebimba o malho em terra de arcebispos com o perfume da riviera maia, discrição e conforto, dizem eles, aperta-me aqui o sombrero ou a ver se entalo a frida khalo, digo eu. entre o bacalhau e o sarrabulho a meias com uma dobrada com feijão branco entrámos em rua congestionada da angelical vila verde, terra onde haverá concerteza a rua do mata-ciganos, ou a travessa do lincha-lelos, ou a praça do maldito lenine. por uma dessas devemos ter enfiado quando demos com um camião do lixo desembestado em marcha-atrás, acompanhado por um peão da câmara local a mandar-nos dar meia volta e quando enfiamos o focinho da carripana por uma perpendicular para executar a inversão de marcha deparamos com um carro da gnr, de onde sai apressado o agente a bufar 'para onde é que vai, por aí é proibido', o meu cunhado justifica-se com as exigências do moço da autarquia e o agente solta o desabafo, 'oooh, isso é uma seita do caralho', assim à boca cheia, fazendo jus ao minho como terra de confessionários, este à beira da estrada e sem cortinas, mas com avaliações deste calibre deus nos livre de uma crise institucional forças da ordem vs município, há equilíbrios no modus vivendi do país que convém não degradar, sob pena de os ciganos de oleiros andarem demasiado folgados.
no domingo faxina ligeira na dita casa work in progress, visita ao cemitério, flores na jarra, água no mármore e um limpar de fotos de gente que ainda deveríamos poder olhar nos olhos, ladeira abaixo que é como quem diz toca a descer pela auto-estrada com passagem pela terra dos fornos, a tabuleta de cantanhede/mealhada é uma espécie de saída de emergência para gulosos, carro no parque do meu homónimo dos leitões, pequena lista de inscrições e a coroa de glória da viagem aterra-me na cabeça, o homem do micro manda avançar para as mesas o senhor vieira [eu], outro fulano anónimo e o nosso [deles] amigo marco paulo, ali, ao vivo e a cores, disposto a trocar o maravilhoso coração por uma artéria entupida com molho de pimenta, vinho espumante e peles crocantes, duas mesas ao lado da minha de onde se vislumbram bem as sobrancelhas arranjadas, as quais não cusco demasiado não vá fugir-se-me o apetite e há que forrar o estômago para enfrentar o trânsito intenso da A1, sinónimo no dicionário houaiss de 'estaleiro de obras', depois a clássica fila pirilau pela segunda circular, que ao momento em entrámos na cidade exsudava bólides na direcção aeroporto-benfica, preparava-se para jogar o glorioso, e que melhor epílogo para uma catrapiscada ao país profundo do que a vista para as roulottes fumegantes e os carros empilhados em ângulos que fazem inveja ao abrir de pernas da elsa raposo. viva portugal.

8 comments:

popeline said...

Texto brilhante. Foi o snifar intenso do incensório ou a elevação após os noventa anos das aparições? E eu cheio de inveja a olhar para a chuva a comer "fritas com maionesa".

Anonymous said...

Mano L:

Quis ler o seu artigo, mas o tempo era curto, na circunstância.
Assim, li o princípio (fim de semana de visita) e o fim (abrir de pernas de elsa raposo, viva portugal).
Creio, no geral, ter apanhado o sentido. Mas diga-me: perdi alguma coisa importante?

Unknown said...

Mais um grande texto.
Na Mealhada aconselho-o a ir a Aguada de Baixo aí tem mais restaurantes excelentes de leitãoe não levam tanta gente.

Faço essa viagem muitas vezes, mas por outras paragens. Lembro-me sempre dos tormentos passados em autocarros de visitas de estudo, gente a vomitar lá dentro, o cheiro dos rissóis e dos panados e sei lá o que mais.
No entanto, há sempre um sítio onde nos sentimos bem, e onde acaba o folclore.

aviador said...

Um grande texto ?

OK . Talvez demasiado.

Não vislumbro o interesse na economia do Blogue.

Não temos que saber os pormenores da tua vida privada.

pedro vieira said...

caro rvn, isto é como os bifes com nervo, a suculência passa muito pelas pontas.

Anonymous said...

mano L,

não que eu seja entendido, mas no caso em a-preço, e não discutindo a suculência, não será mais a dureza da carne que o nervo?

o mano saberá melhor, que eu cá nem saí de casa este fim de semana...

pedro vieira said...

tudo depende do gosto de quem rilha a chicha. sem dogmatizar.

Anonymous said...

mano L,

atenção,muita atenção.
há duas coisas na vida com que não se dogmatiza nunca, a elsa raposo e o arroz de cabidela no marquês de marialva em cantanhede.
pois o mano que rilhe a chicha como entender, mas não se atreva ao dogma nestes dois particulares.
terá em mim, saiba, um inimigo feroz se o fizer.
homem, tenha coração!