dia com começo aziago, nuvens encanitadas e vento a bufar, maldita a sina dos que saem de casa por obrigação, diz o povoléu que o domingo é dia do senhor, não se trabalha, a não ser quando se pertence à classe dos maltratados do comércio, digo, dos trabalhadores do comércio, tutelado por hermes, jovem de bom torso e asas nos pés quase tão velozes como o meu chaço joaquim antónio de aguiar acima, as faixas desimpedidas, a cidade um deserto, se lisboa não foi a dakar o dakar veio até cá, quatro horas de labuta e o regresso um pouco mais luminoso, com a chuva amainada e o sentido descendente, que sempre dá para pôr o bicho em ponto morto e viajar com a chamada gasolina nacional, parquear é uma beleza e toca de trepar rua acima a caminho de casa, ao fundo a visão do idílio. no sentido contrário, como quem vai almoçar fora, os vizinhos do rés-do-chão esquerdo, velho gaiteiro que maneja bem a bengala, mulher menos gaiteira, porque mais curvada, pelo braço. amparada pelo marido/galã, por forma a não encarrilar paralelipípedos abaixo, que hoje é dia de chão escorregadio e as pernas totalmente abauladas, estilo arco da rua augusta mas em melhor [lembrei-me agora que no meio deste arco também deve haver um relógio parado mas não porfio nesse pensamento porque não quero perder o apetite antes de almoçar], dizia, essas pernas não são bom augúrio. e por isso o macho alfa ampara. nem parece o mesmo duo romântico que costuma discutir à janela, ele do lado do passeio, ela dentro de casa com as ventas a ferver e a alcunhá-lo de paneleeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiroooooo, ou a mimá-lo com um mais prosaico ESTE CABRÃO, voz com um volume que não condiz com o físico, bem se diz que quem vê caras não adivinha pulmões, hoje o clima é então de paz, deve ser por o dia já mostrar melhoras, o céu agora aos farrapos com promessa de sol, deve ser por ser dia do senhor. e da família, lugar onde como se sabe os paneleiros nunca arranjam lugar sentado.
sinais
Publicada por pedro vieira em 3.2.08
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4 comments:
Bem (dis)corrido. Bom domingo, então.
gostei da prosa, irmão. solidariedade para com os maltratados do comércio. quanto à chuva, faz a mossa que faz. a norte nada de novo. já a questão de quem vê caras não adivinha pulmões, essa leva um sorrisinho.
Adorei! Espetacular!
Lá está... cada vez gosto mais deste blog :)
muito bom
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