é preciso pegar na verdade pelos cornos, revirá-la e trazê-la à liça: não há como negá-lo, trabalho num centro comercial. um género de local que levaria à demissão do governador da nova iorque cá do sítio, se tivéssemos alguma, isto no caso de alguma vez o senhor lá ter posto os pés, que a pila andou a pô-la noutros sítios, o senhor, assim, com letra minúscula que o Deus UPPERCASE não costuma andar muito de braço dado com a boutique dos relógios, o que é lamentável. ora, área comum que notabiliza os tais centros comerciais é a da restauração, zona onde ainda podemos assistir ao gonçalvismo travestido de tabuleiro e cheiro a pita, e onde não há cá meio termo: ou o estabelecimento admite o cariz farta-brutos e exibe as gorduras sem pudor, coisa a que os banhistas da costa de caparica estão mais do que habituados, ou então opta pela máscara da saúde, com tabuletas cheias de verde e animais estranhos como a rúcula, sim, trata-se de um bicho tremendo e não de uma espécie de alface espigada e inofensiva. o paradigma desta luta pelas preferências da mole humana não tem admitido posições de compromisso, ou se está com o enfarte do miocárdio ou com a anorexia. sucede que hoje, em visita ao delifrance, espécie de franchising em que os empregados vestem a púrpura dos senadores, quer dizer, nunca ninguém disse que a república romana era um sítio decente de se frequentar e como tal eles optam pela paleta correcta, dizia, fui lá emborcar um croissant de fazer inveja aos vernizes uv das máquinas offset e deparo-me com uma hipótese de redenção, com um blairismo que nunca admiti que pudesse vir de gente afrancesada, o estupor aterra-me nos olhos quando percebo que o delifrance oferece um "menu saúde", assim, com todas as letras, como quem assume que tudo o resto que têm à venda manda as artérias com o caralho mas ali sempre temos sempre a ínfima hipótese de evitarmos andar entubados antes dos 40 anos graças à beterraba, às coisas verdes e inimigas do paladar e aos copinhos de água, à cebola e a outros assassinos do hálito bom-cristão, uma terceira via a troco de uma mão cheia de euros, o paraíso aqui tão perto e em conta, se calhar há quem ceda ao encanto desta espécie de sereia guterrista, dialogue por mais uns anos com o seu fígado e nada de éclairs à sobremesa. quando os campeões do bolo pré-cozido que exsuda calorias dos infernos abrem brechas tamanhas percebo que o nossa vida de working class enfeitada com nokias e pda's nunca mais será a mesma. afinal de contas já não há convicções, foda-se.
a terceira via segundo o delifrance
Publicada por pedro vieira em 13.3.08
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2 comments:
Belíssimo, irmão! (note-se a vírgula...)
Um dos melhores que aqui tenho lido.
lindo.
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