you should have met me in the eighties para veres o que era doce

a nostalgia foi-se instalando de forma difusa, subreptícia, a marcar pontos a par com o vocábulo retro, que nos bons velhos tempos soaria a paneleiragem e agora soa a vintage, roupas medonhas passam a fashion, canções olimpicamente foleiras passam a ser de culto, e foi através delas, das músicas injectadas em festas mais ou menos particulares que os oitentas voltaram ao nosso convívio, ou eighties, que soa mais retro e mais estrangeiro, mais bryan adams, que por acaso andou por cá na semana passada, menos carlos paião que segundo rezam as crónicas tem andado muito pouco. concedo, é uma vertigem tentadora, eu próprio gosto da samantha fox, ou pelo menos da imagem que guardo dela. ou do par de imagens que guardo dela, para ser mais exacto. mas agora, graças à saturação em que o maravilhoso mundo da publicidade é especialista já começo a bufar com tanto revivalismo, são os trabalhadores do comércio na campanha mais anacrónica de que há memória desde o e lá em casa ri-te, ri-te, tudo é indesit, a canção inane da maria armanda, la fontaine para bimbos do garrafão, a acarinhar o medonho sapo da pt que tem a amabilidade de albergar o sinusite crónica [veja-se como até simpatizo com o bicho, mesmo que por conveniência]. temos também as favas com chouriço do josé cid, zarolho homofóbico portador de capachinho que sofreu um bestial lifting de boa imprensa ou ainda o engenheiro sousa veloso a dar o aval aos sumos da compal, que, vá lá, já não são vendidos nas casas de pasto – agora espaços lounge com decoração retro, claro – em latas inox de abertura mais ou menos fácil, ou abertura aos repelões, vá, munidas de uma tampa de elipsoidal mais aguçada do que uma espada do kill bill, outro tomo em dois actos convenientemente retro, com o david carradine, que só por acaso não anda a fazer campanhas da fagor ou do milennium bcp caminhando em direcção ao sol com uma mochila do sport billy. reparem. temperar umas conversas de amigos ou umas sessões de pé de dança com as idiossincrasias dos anos oitenta tem o seu potencial de diversão, e aqui introduzo o conceito de homeopático, vocábulo galhardo que assenta tão bem na minha escrita como um dente de ouro na cremalheira de uma criança romena. dizia, use-se o revivalismo em doses pequenas, com parcimónia, outro vocábulo com aquelas características tal e tal que não reproduzo por pavor à repetição e às acusações de xenofobia. mas encharcar o prime de time de publicidade [o que já acontecia] ainda por cima alicerçada no imaginário pré-CEE [infestação nova] já cansa. aliás, comer sortido rico de contrabando, mudar do canal 1 para o 2 e vice-versa ou fazer lobby na mercearia para garantir um pacote de leite do dia tinha uma graça do caralho. ui, como a saudade aperta.

texto publicado no blogue colectivo sinusite crónica

6 comments:

PDuarte said...

Bom. Tu realmente és bom.
De mim, poderia relembrar-te o chavão públicitário (polémico) do Media Market, mas estaria a mentir ao povo.

Mak said...

é bom mas não é uma Brastemp.
(toma lá mais um!)

Ricardo Machado said...

Como diz o meu irmão: Só é maluco pelos anos oitenta quem os não viveu a sério...o resto é comércio.

Anonymous said...

Quanto mais te leio, mais te adoro!

Papoila said...
This comment has been removed by the author.
Mazinha said...

Serás tu do tempo em que se ia a Espanha comprar bacalhau, ananás enlatado, bananas e toblerone??? E o El Corte Ingles de Vigo??? aquilo era um mundo! aqui à tarde podia-se ver a Telescola e era um pau. Anos 80 uma ova (a n ser os finais...)