colpo grosso



ontem à noite fui laurear a esposa e a pevide, não necessariamente por esta ordem, ao lux do manuel reis, estabelecimento de animação nocturna agora de metro à porta, com a linha azul que é a que mais me convém e como tal lá desembarcámos para ver o concerto dos nossos representantes do western-bacalhau, intérpretes das melhores atmosferas joão césar leone, dead combo de sua graça, que vão trazendo à ilharga um soberbo disco pessimamente baptizado, lusitânia playboys, não se via tamanho tiro ao lado desde que o joão silva escolheu o alias marco paulo. ia com altas expectativas mas saí com sentimentos ambivalentes, o viço e o talento os moços têm-nos de sobra e a gravação em ambiente de estúdio provam-no à saciedade recreativa, transplantados para o palco a coisa tartamudeou um bocadinho, talvez por pouco tempo para ensaios e banhos de óleo, talvez por desconforto natural, os rapazes rangeram um bocado nas calhas, disso não se ressentindo o público, cada vez mais infestado de meninos blasé-chique que se marimbam para o alinhamento, mais preocupados em lançar bojardas para o palco ou em encolher os ombros à prestação enquanto se entorna mais um caneco de vodka importado, viva a liberdade, o 25 do 4 e o diabo a 7 mas a alguns destes enfiava-os no campo pequeno, não para lhes limpar o sarampo mas para que fossem importunar o mark knopfler e as mãezinhas deles que assim os terão criado. os combo estavam preocupados em agradar, choviam dichotes e larachas, eles coloquiais nos agradecimentos, a massa ululante cínica e vagamente interessada. pelo meio chamaram-se pessoas ao palco fora da sua vez, caíram folhas de pauta que impediram o arranque em boas condições da belíssima putos a roubar maçãs, apresentou-se um clone do malato vestido à berardo que deu uns toques de trompete, convidou-se um tipo vestido de verde para actuar em palco, suprema blasfémia em atmosfera de dark spaghetti , o convidado estrangeiro não pôs lá os butes, as meninas à minha frente iam ignorando uma ou outra pérola sonora para varrerem a lista de fotografias do telemóvel 3G, o cãozinho branco, o amigo vestido de fato de treino.
e quanto à música? maioritariamente boa, a guitarra entre o melancólico e o frenético, o contrabaixo entre o musculado e o insinuante, um par de convidados que sabiam massajar os pratos de choque, um vozeirão de escola lírica que abrilhantou o like a drug e que ainda voltou para o encore apesar de os combo acharem que ela já tinha "dado de fuga" (sic), veja-se como começaram envergonhados e acabaram em registo tasca-mesa-de-fórmica-e-dominós, uma versão do sopa de cavalo cansado sem adornos nem arranjos, no osso, com o pedro gonçalves a suar para arrancar os agudos ao contrabaixo, um par de canções de álbuns anteriores a levantarem óptima poeira rock n'roll e ainda a versão simples de desert diamonds, sem kid congo powers que terá ficado pelas américas a debitar estórias às criancinhas enquanto que, à mesma hora, em lisboa, os combo mostravam que o instrumental por trás da voz é de gabarito, muito lynchiano, se um anão aparecesse a correr ninguém estranharia, aliás, preferia um desses indivíduos ao magano plantado à minha frente com a sua afro a bambolear entre a amiga colorida 2.0 e a amiga versão 486, badocha que nem um bud spencer com um pouco menos de buço (embora a penunbra não permita certezas absolutas), também ele (magano) indiferente aos acordes, aos dramas de um punhado e dólares enrolados em massa de pastel de nata para lisboeta ver. em suma, foi fraco e forte, foi caldo e fredo, não consigo decidir-me de forma conclusiva, sei que os moços são ragazze cin cin mas falta-lhes um bocadinho de soberba. caso contrário a maralha abusa. ponham os olhos no umberto smaila, vá.

texto publicado no bolgue colectivo sinusite crónica

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