se fossem pôr o paternalismo num sítio que eu cá sei

já cansa ouvir a alma condoída dos comentadores profissionais àcerca dos meninos de scolari, da euforia com o euro, das transmissões intermináveis que, já agora, só vê quem quer, eu não quero e não vejo, mas assisto aos jogos de portugal com grande prazer, com os meus amigos e respectivas grades de minis, e também vejo os outros jogos sempre que posso, já não tenho é cu para o paternalismo dos agoniados com o pontapé na bola, como se quem gosta de futebol precisasse de um tutor que lhe abra os olhinhos, que lhe lembre a crise e o atraso, o défice e a puta da euribor que não pára de subir, eu não me esqueço deles, nem quando vou no autocarro que já usava militantemente antes da gota a um euro e meio o litro mas já agora acabe-se com as fodas, as idas ao eleven e as compras na feira do livro, os bilhetes de cinema e os shows de travestis, que só alienam, só distraem este povo que precisa de ser guiado pelos sábios da guilda da marmeleira que, já agora, a partir do mundo paranóico de onde debitam os perigos da minha alienação, deviam perceber que portugal precisa é de braços para trabalhar, como diz o povo, de pedreiros, operários, electricistas, repositores em supermercados abertos ao domingo e já agora na noite de natal, as receitas que se perdem com as portas fechadas, valha-me deus, de engenheiros, civis, químicos e outros, de informáticos, estivadores e calceteiros, não precisa de coleccionadores de livros que não sabem o que fazer à bílis, de historiadores, críticos, pensadores, entre outras inutilidades, que no fundo isso também aliena, também distrai da grande missão que é construir uma terra melhorzinha, deixem então os canhenhos e arregacem as mangas. ou então deixem-me em paz com a pátria de chuteiras, caralho. ao menos aqueles que entram em campo sabem o que é suar um bocadinho.