teologia do burrié

há um sítio muito agradável para jantar ou cear neste verão a dar para o fresco em lisboa, acessível a bolsas classe média, com um manancial de pizzas apetecível e mais competitivo do que aquele à beira-lux, algures entre o fashion e a mesa de cantina, e eu quanto a mesas corridas já me bastam as do atrium saldanha, sempre prefiro uma mesa dividida apenas com a minha mulher, esquisitices burguesas, e vai que me dá gozo ir ao mezzo giorno, plantado a seguir ao quase túnel da rua garrett, esplanada airosa, cogumelos frescos, e por estes dias, em mesa próxima, uma dupla de jovens turistas, duas moças de aparência similar às gentes dos países da Reforma, cristã e não de pensão mínima, corpulência e caras alvas, a degustaram uma qualquer especialidade italiana que uma das comensais resolveu apimentar com três ou quatro pares de burriés retirados das narinas com uma candura, uma souplesse, uma leveza só acessível aos mestres de sushi e aos carteiristas do eléctrico 28, a entremear com o fusile, sem hesitações, e eu a pensar que as pessoas da ética protestante e do espírito do capitalismo são realmente empreendedoras, não desperdiçam recursos que o próprio corpo lhes oferece, e nesse entretanto a minha refeição ficou mais rica, alimentos a preços gostosos e espectáculo grátis, tendo em conta a base de massa da minha pizaa julgo haver fundamento para qualificar o dito jantar como panem et circenses, no circo máximo do pátio do siza, e eu de polegar para cima, qual imperador da classe c2, a apreciar o espectáculo e a deixá-las viver. pelo menos durante um post.