literadura de viagens, dia 2

queluz, berlim

bauhaus


muro

família feliz


dia dois da viagem quase-relâmpago a uma cidade pejada de quilómetros, quase tantos como o número de árvores que a povoam, que ainda assim, conseguem ser menos do que as bicicletas que por lá rolam, rais'parta tanta ciclovia e gente com ar saudável a dar à cremalheira com bebés a bordo, cestos das compras e o diabo (vide brasileiros que se intitulam pcp)a sete. durante o segundo dia fizemos a visita da praxe a um palácio setecentista, o tipo de lugar que procuro em qualquer cidade onde vá, na esperança de encontrar algo tão pitoresco como o nosso palácio de queluz, bordejado por uma via mágica como o ic19. no schlöss charlottenburg isso não acontece, está bem enquadrado dentro da cidade, tem muita sala com brocado e um belíssimo jardim que ofende a tradição portuguesa, uma vez que não está pejado de velhos masturbadores. deixamo-nos de barroquices e rumamos à zona oeste do tiergarten, junto da qual dá cartas a casa helmut newton, local onde podemos ir ver mamas boas em catadupa com a nossa mulher, e sem problemas, dada a caução artística do indivíduo que dá nome à casa. daí seguimos para o arquivo da bauhaus, local judaizante que o nacional-socialismo encerrou logo que chegou ao poder em 1933, razão pela qual associamos mais o nome ao charme discreto do burguês peter murphy do que às artes and crafts do arquitecto gropius. em três penadas, património e cultura de massas - sim, há descontos nos museus para detentores de títulos de transporte - damos corda aos sapatos, contornando o tiergarten pelo sul, passando pela potsdamer platz toda ela em aços e vidros e shoppings, rumo à antiga prinz-albrecht strasse, entretanto renomeada por forma a sublimar-se um pouco a memória da zona onde campeava a sede da saudosa gestapo. por ali convivem mais memórias, nomeadamente um troço do muro que dividia a cidade, bem como um local de exposição denominado "topografia dos terrores", que bem podia ser dedicado ao tema dos penteados germânicos. optaram antes pelos anos de chumbo do governo NSDAP, 33/45, e que foram demasiados. mais adiante uma passagem pelo mítico checkpoint charlie, transformado numa espécie de dependência do centro comercial babilónia, versão souvenirs de pechisbeque da guerra fria, seguida de mais uns quilómetros a pé e jantar no hackesher höf, complexo assombroso de pátios que respiram qualidade de vida na zona do mitte. por esta altura já dávamos como provado que ninguém corre para apanhar transportes públicos, porventura pelo facto de o seguinte estar quase sempre ao virar da esquina. no regresso à comuna de paris, rua, nova passagem por alexanderplatz em registo nocturno. aquilo tem um magnetismo qualquer, caralho.

avistamento de clone do dia: saldanha sanches, em versão vigilante de museu

2 comments:

Anonymous said...

vejo que também foste roubado no bauhaus, ou como é conhecido no livro de visita, bau-empty.

Leonor said...

A cidade tem um magnetismo qualquer, não é só o Alexanderplatz. Por qualquer razão obscura ou não estive dez dias em Berlim em Agosto e já estou ansiosa por voltar. Folgo em saber que não sou a única que acha o Checkpoint Charlie um nojo.