há o chavão popular que avisa pobretes mas alegretes, eu venho propor os pobretes mas informados, agora com essa via mais facilitada graças às maravilhas da internet, a informação que pulula, quase grátis, a um duplo clique de distância mais uns pozinhos. depois há os indivíduos que apreciam o papel, como este caramelo que vos fala, formulação assustadoramente próxima de certo e determinado título da safra de alexandra solnado. gosto do papel, do folhear, como dizem alguns, do desfolhar, como garantem muitos, e de entre os publicadores de informação em papel prefiro o Público acima de todos. comprá-lo todos os dias é que é um busílis, faça-se a conta, quatro dias a 0,90 €, três dias a 1,40 €, o que perfaz uma semana a 7,80€. multiplicada por quatro atiramo-nos para os 31,20 € e com mais um par de dias, mesmo que a noventa cêntimos, ficamos a roçar os 33 euros redondos em cada mês, a saber: cerca de 5,7% do meu salário líquido, uma fortuna, veja-se que este é um país onde o orçamento da cultura não chega sequer a 1% do produto impossível bruto, que a fase do interno já passou.
e ao domingo, dia do Senhor e do euro e quarenta, sai a Pública, esta semana subordinada ao tema do natal e do propalado luxo inteligente, justificado da seguinte forma: "em plena crise (a sério?), podemos vestir-nos (que pena) sem comprometermos as nossas finanças" (fala-me a cantar). para ilustrá-lo maria joão bastos, moça por quem nutro alguma simpatia até porque conheço alguém que jura a pés juntos ter sido transportada num táxi pertença do pai da so called bastos, coisa que se calhar nem era bem verdade. adiante. o número especial, então, abrilhantado por uma crónica de laurinda alves, formato literário para o qual estava guardada a palavra shoa, não fosse dar-se o caso de ter acontecido o holocausto. o tal luxo inteligente, que abraça peças como o vestidinho em algodão hoss por apenas 352 euros (59,4% daquele tal salário), uma blusinha twenty8twelve por parcos 250 euros (42,2% do dito), ou um outfit Pedro e Pedro, em estilo vestido, por 568 euros (96% do tal e coiso). para as calças de fazenda isilda pelicano o tal de salário já não chega.
depois vêm as 277 sugestões para presentes, e meça-se bem a palavra, a Pública não utiliza o vulgar "prenda", aposta antes no "presente" para agradar ao seu público-alvo, aquele que diz enterro e não funeral, que diz mulher em vez de esposa, que diz encarnado em vez de vermelho, que diz insolvência e não "filhos da puta de empresários matarruanos que encavaram mais uns trabalhadores no vale do ave". da lista dos 277 também há preços de gabarito, que encaixam no tal lixo, minto, luxo inteligente. para a avó, a prima tareca, e por aí adiante. não digo que não seja revista instrutiva, de cultura, até fiquei a saber que bolero é nome de peça de roupa e não só de bailarico sul-americano. mas em olhando para o meu nib e para estas páginas de papel couché impressas a quatro cores sinto uma certa angústia no capítulo das percentagens e penso, foda-se, ainda querem que um gajo se interesse pela porra da matemática.
a revista Pública, um palavrão
Publicada por pedro vieira em 2.12.08
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4 comments:
Talvez pedir assinatura Porta-a-Porta - http://static.publico.clix.pt/homepage/assinaturas/default.aspx#papel - se poupe algum para comprar presentes. Na Suica e a forma mais habitual de ter o jornal diario.
Também tenho dessas revistas que nos ajudam a poupar. Verdadeiras relíquias da (quase!) bricolage de roupeiro. Estão na casa de banho, dentro de um cesto de verga do Modelo, por cima dos rolos de papel higiénico... de marca branca.
e fiquei lixado por pagar 1,40 para levar um banho de publicidade que rendeu ao dito jornal uma fortuna...
:(
Há melhor. Umas semanas atrás veio o jornal universitário (da Escola Superior de Comunicação Social) 8ª Colina.
E lá vinha publicidade gratuita para a extrema-direita rockabilly. Foi giríssimo, até pelo tom contemplativo ao tipo da polpa recheado de indumentária nazi. Mas sobre isso nem uma palavra da quase-jornalista.
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