Ao segundo dia do ano uma singela volta pelo meu bairro mostra que nada mudou, que os pontapeadores de fígados do costume não perderam o vício, nem o tino, continuam a cirandar pela rua principal num delicado slalom-entre-tascas que nem o sebastien löeb arriscava. Dos muitos que aqui medram há três de quem gosto muito, e a quem avistei hoje: o velhote com uma verruga em forma de bola de ténis que ameaça soltar-se a todo o momento, indivíduo a quem o copo de branco carrascudo garante mais equilíbrio do que o par de canadianas com pegas coloridas; o "chalana", indivíduo de quem ninguém parece saber o nome, sempre com a calça do obrame manchada de salpicos barbot e com os olhos encovados, muito miúdos, muito brilhantes lá no fundo das ventas inchadas, assim como aquele moço d'o covil do kafka mas com mais confiança na vida. Ou pelo menos no alambique. E o outro, o dos óculos, bigode e mochila, voz de rádio e fígado da vialonga, onde se produz uma óptima água com gás engarrafada depois de embebida em cevada. Este é o meu favorito, afinal trata-se do homem que aqui há atrasado, em plena cervejaria "o cartaxinho" afirmava ter duas colunas - uma, a cervical, e a outra, que padece de duas hérnias (sic). Cá no bairro, novo só se for o vinho, isso do Ano foi chão que deu uvas, que alíás, nunca serão as suficientes.
texto estreado no grandiloquente sinusite crónica
2009 e os fígados já batem palmas
Publicada por pedro vieira em 4.1.09
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1 comment:
Também conheço bem esses três castiços. Gostei muito muito de ver o teu desenho, Pedro. Bom ano.
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