no momento da pausa e de rilhar o dente tenho acesso aos highlights do meu shopping, todo eu anglicismos, aqui e hoje, a minha pátria é a língua que está mais à mão, e por essa hora, às dezanove e quinze e qualquer coisa, a gorducha do café ainda transborda simpatia, e em sendo ante-câmara da hora de jantar os sambistas do pedaço vão dando vapor aos tachos, na tv o fernando mendes a dar baile aos preços, naquela postura de schwarznegger a fazer de grávido mas com sotaque de alfama, galhardetes, chouriços e medalhas, uma cornucópia de sentimentos. como aqui, no centro comercial, onde três chineses desbastam 50% das latas de coca-cola disponíveis no mercado, onde as meninas dos escritórios que ficam por cima de nós, os escritórios não as meninas, a língua pátria sempre a fazer-nos escorregar, vêm tomar um je ne sais quoi de despedida, apertadas no fatinho de corte tem-te-não-caias, lá diz o pacheco pereira, é difícil ganhar o suficiente para abastecer a cesta básica na hugo boss, e elas, sonhadoras, debicam o galão e recordam as últimas férias em punta cana com o zé tó e a pulseira dos daiquiris. ao fundo o pianista avençado vai teclando aquela malha do nem às paredes confesso, já eu sou mais pela língua solta. aquela, a da pátria.
às dezanove e quinze no meu centro comercial
Publicada por pedro vieira em 13.2.09
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2 comments:
Gostei tanto de ler...
quem escreve assim não é gago
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