delta romeo

por estes dias, o meu (nosso, de todos) shopping está trajado a rigor de vermelhos e rubros arraçados, com o café do comendador nabeiro a oferecer um alfa romeo a quem tiver a fortuna de meter o papelinho certo na tômbola, portanto, um papel por cada compra delta, uma hipótese em doze mil e quinhentas e dezassete e meia de empochar um carro daquela marca que nos faz feliz durante dois dias, aquele em que compramos o bólide e aqueloutro em que o vendemos, veja-se a fama destes desportivos, e a efeméride arrebita as massas, à hora a que trinco o almoço com a linha do horizonte pouco mais alta do que o tabuleiro - sou um gajo encavacado p'ra caralho - surge uma turba que cerca a menina das promoções, ela oferece bicas como quem usa um tester dos perfumes e companhia e a turba ulula, sejam quais forem os seus componentes, a saber: os reformados, que dão ares de entendidos, debicam o café com o sobrolho retorcido, opinam, perguntam pela máquina e manjam o rebolado modesto da morena esquálida, vestida de casaco que não aperta de forma a trazer os manípulos à vista de todos, apertadinhos contra a t-shirt coliante, e vêm também os executivos com idade para serem meus afilhados, vá, em mangas de camisa e fuças de prosápia que nem sequer dá tréguas na altura do desjejum, também ufanos, também observadores, menos persistentes do que os piores inimigos da caixa nacional de pensões, e há também os estudantes que bebem à pala e bazam, sem makas, e o vaivém de estafeta, foda-se, muita gente entrega e levanta coisas no meu (nosso, de todos) shopping, não têm tempo para parar, trazem o capacete enfiado no antebraço musculado devidamente coberto de blusão feroz e en passant lançam o olhar se-fosses-um-chocolate-lambia-te-até-à-prata à menina-promotora, estes moços quando aviam o gasóil da mota também devem molhar o bico na agulheta da testosterona, quem me dera ter este arcaboiço rijo e macho, com muito pêlo, nenhuma febra me escapava, nem sequer aquela loira platinada que já substituiu a morena, ainda mais blush, manípulos mais generosos, o reformado dos bigodes volta para a segunda ronda, ai a máquina, ai a bica, como quem chega pela primeira vez, e eu volto ao trabalho com pena, a ensaiar poses de motard que leva e traz pacotes, para a próxima também eu vou à cata da amostra, todo guloso, confiando que a minha dama não me anda a vasculhar o blogue nem as intenções. and yet...

2 comments:

FavaRica said...

Ou feliz coincidência pela mudança de turno ou muito tempo de lunch break! A mim calhou-me alheira na messe de oficiais e uma visita guiada pelas mui nobres (ex) instalações de férias do nosso (de todos) Marquês de Pombal! (nada que se compare à verdadeira mina de inspiração de um shopping! Que saudades de ter o que observar lânguidamente...)

Anonymous said...

Só faz sentido invejares um motard quando encontrares um que escreva como tu. Beijinhos :)