Alêtheia goes rua do século

© fotogramas vieira

estão franqueadas as portas de uma nova livraria em lisboa, aquela das elites entre outros demónios, anunciada e lançada por zita seabra, curiosamente numa padaria, base do alimento do povo, outros tempos, outras memórias, e a abertura foi um sucesso, magotes de not so beautiful people, pelo menos quando os olhamos de perto, já na antecâmara uma conhecida ensaísta agradecia a uma conhecida entrevistadora os conselhos sobre cremes enviados por email, e as vagas de gente que não paravam, a ala dos esquerdistas arrependidos, a da coqueterie que cultiva um só beijinho, entre outras, entre muitas, sempre que faço a cama lembro-me de ti, confessava uma senhora bem-posta e eu a dar de fuga, intimidades não é comigo. Entretanto a dona da casa já dava as boas-vindas, sempre sonhou ter uma livraria e tal, um par de graçolas, já citava o empresário Alexandre Soares Santos em substituição do camarada Marx, já garantia a inexistência de best-sellers no novo espaço, se querem comprar o segredo, ou o paulo coelho ou carolina salgado vão a outro lado, e estou a citar, as livrarias estão cheias de coisas que não são livros, e estou a citar, fiemo-nos no critério de zita, afinal foi ela que teve a perspicácia de antecipar o sucesso de dan brown, uma espécie de mistura entre jorge luis borges e vladimir nabokov. Ou será entre o zandinga e o gabriel alves? Enfim, coisas das letras. Por esta altura já o josé manuel fernandes tinha pegado no microfone mas com pouca projecção na voz, soava-me um pouco debaixo de água, pelo que vim cá fora em boa companhia, cuscar, cirandar, esperar pela hora do croquete, ver chegar um conhecido banqueiro com o seu motorista, ver sair um ex-ministro, uma canseira. Finda a apresentação do Passaporte lá se abriu uma brecha que permitiu conhecer melhor a livraria, bonita, sim, best-selller, não, aliás, ainda pouca mercadoria à vista, o que se compreende, muito livro em facing e imaginação na arrumação, e eis os senhores da bandeja a circular, por entre cadeiras e bancos corridos emprestados pela igreja da zona, I kid you not, aliás, já antes da abertura um padre tinha benzido a alêtheia com cerimonial e ladainha apropriados aos estabelecimentos comerciais, quem sabe o pormenor que falhou na abertura daquele famoso espaço com estante robotizada, o ateísmo paga-se caro, helas. Também houve música clássica, mais políticos a entrar e a sair, mais a senhora que acompanha os papas em viagem, enfim, uma cornucópia de sensações potenciadas pelo catering, competente e lesto, dado o número de convivas agarrados à flute da champanha diria mesmo que esta é uma livraria das elites. E dos elitros, então, nem se fala. Saúde e boa sorte, então, e valha-nos deus, que o sector do livro anda bem precisado.

4 comments:

Zé said...

Uau... escreve um livro.

RPL said...

Caro irmaolucia,

absolutamente genial. Muito obrigado.

Vês a realidade como ela é. Raro. Raríssimo!

E ler o teu relato é um prazer.

Abraço

LAM said...

Aletheia, humm...
um nome desses só podia vir mesmo da camarada, perdão, ex-camarada.
Cum carágo, se não é criancinhas o que é que os gajos comiam ao pequeno almoço?
Num tou a ver. mas lá que batia, batia.

Catarina Barros said...

cum catano, a senhora que acompanha os Papas também esteve cá ontem!