à hora do jantar, no meu querido shopping centro

sento-me numa mesa com vista para o plasma ligado na sportv, os jogos da champions acabados de acabar mas os resumos ainda por dar e assim, enquanto enfio os talheres de plástico no prato de fusilli, catrapisco os frangos do petr cech porque diz que a massa vai bem com carnes brancas, mas o espectáculo até estava montado na mesa em frente, mesmo sem patrocínio da ford, da playstation ou da saudadosa cerveja amstel, que voz amiga me garantia ser iguaria directamente filtrada dos canais de amesterdão, tal era a qualidade do produto. A mesa defronte, então, com três figuras de estalo viradas de frente e uma de sonho virada de costas, de frente para mim estavam um clone do vocalista dos tv on the radio, agora sem o ar trendy da brooklyn natal ou do casamento de rachel em que fazia de noivo indie e cool, passe a redundância, este, o do shopping, em menos glamour, em mais carisma, com óculos e lentes saídos do telescópio hubble. Ao lado um indivíduo em camisola de alças, promessa de vulcão, bíceps trabalhados, cabelo grisalho, boca mordaz mas eis que se levanta e mostra a perna esquerda mirrada, que para se deslocar com a outra necessita do apoio de um par de muletas, yin e yang ou lá o que é, uma lástima, e por fim, o homem que alterna as vistas entre o ecrã e o telemóvel, com ar triste, triste, triste, como quem acaba de ler um romance do joão de melo, adepto do liverpool, está visto, pelo menos desde que deixou os rudes açores por troca com um seminário beirão. O cabelo em farripas para a frente não ajuda.
De costas para mim a cereja no topo do bronco, um indivíduo que insistiu em levantar-se um par de vezes enquanto ruminava comentários ao empate a quatro e quatro, e de cada vez que o fazia - levantar-se - e mesmo quando se sentava, fugia-lhe a camisola lombo acima e a calça cóccix abaixo, situação que me proporcionou a visualização repetida do rego do indivíduo, justamente à hora da minha refeição, até tive um professor de electrotecnia que também trajava e bamboleava nestes termos, nessa altura perdi os amores pelas ferramentas e bricolages, já ontem senti saudade de saborear um courato. Sempre é mais higiénico. E vai bem com bola, ôôô êêê ôôôôô.

1 comment:

Nuno said...

excelente. gostava de ter escrito isto.