dos sítios da náite

em plena rua da misericórdia passa-se um fenómeno estranhíssimo, da misericórdia mas sem piedade dos incautos, dizia, por estes dias sai-se à noite no topo do edifício que apadrinha um centro comercial directamente saído da cabeça de um russo que muito ansiou pela perestroika, brilhos, dourados, espelhos, elevadores, senhor de fatiota e guest list mais ou menos contornável plantado no foyer, um senhor que barra os homens de calção ou bermuda (sic) mas que escancara as portas às bifas e tugas aparelhadas com um tomara-que-caia ou similar, como sabiamente se diz no brasil, sobe-se até ao último piso, com vista bonita, sim senhor, lisnave iluminada, barreiro, cristo rei, néons dos armazéns do chiado e o caralho mas o panorama, mesmo que cheio, é desolador, dois dirigentes nacionais do psd, abrenúncio, mulheres com base que dificilmente sairá sem recurso a escopro e martelo, meios-sorrisos (ou seriam esgares provocados pelo preçário das bebidas?), moças americanas a mostrarem os escaldões, homens visivelmente satisfeitos com os seus cabelos tufadinhos, e em pano de fundo um R&B quase tão deplorável como as fatiotas de polyester que abundavam, abundavam. Em cinco minutos a sensação de inadaptado ao estilo nova iorque fora de horas apossa-se da gente, dá-se de fuga do Silk, o nome oficial do estabelecimento onde já terá posto os cotos o maior metrossexual da madeira, mas para nós será sempre o Sedas, mais carinho, mais portugalidade, mais afecto, afinal está plantado na rua da misericórdia, um gajo não pode ser insensível às coisas, que diabo.

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