a livraria, as livrarias já não são o que eram, escritores são produtores de conteúdos, leitores são consumidores finais, já não há campainhas que tilintam à porta, apenas antenas de alarme que zumbem quando se compra uma peça de roupa na zara do outro lado da avenida e se esquecem de desmagnetizá-la, já os amigos do gadanho quase nunca apitam, sabem como contorná-las, às barreiras e ao resto, o que é facto é que há um par de dias regressei a casa com a cabeça num novelo e uma neura badocha às costas, como se um macho que é macho entrasse num domingo e não conseguisse caber no fato-de-treino com que habitualmente esfrega, acaricia, mima o seu utilitário, um mau bofe dos demónios, portanto, e como tal resolvi fazer no dia seguinte uma microestatística procurando saber quantos consumidores finais iria atender num dia por entre zumbidos e apitos e o telefone que toca e a senhora que fala com a mãe sem que ela (mãe) consiga saber o que é o botão branco no comando da zon box, um pauzinho por cada um deles, como faziam os pilotos de caças depois de uma jornada a mandar boches pelos ares, toma lá que é apfelstrüdel, punk, boa tarde isto e aquilo enquanto se acartam calhamaços e a filipa melo conduz a orquestra da comunidade de leitores lá ao fundo, código disto e daqueloutro, os livros que é necessário fazer chegar a angola sem tirar os olhos do excesso de bagagem que é um ai jesus, e a contratação pública que está que não se pode. ao final do dia contei 71 vítimas. nenhuma me perguntou por literatura. esperemos que ela (literatura) seja auto-suficiente.
no lugar da campainha a tilintar, uns alarmes forrados
Publicada por pedro vieira em 4.3.10
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5 comments:
não fosse a confusão até ia perguntar pelo komrij mas um de vocês já mo reservou por email.
"olha desculpe, tem «come rai»?"
Este texto é uma riqueza.
Vá, eu levo-te jesuítas... [TS]
um dia vou a essa livraria pedir os remarques, uma yourcenar, um cesariny, um ou dois eugénios só para que não pareças tão triste, pa... e com razão, infelizmente.
esta pontuação... está uma merda.
Desculpa
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