o Caderno Principal
podia afirmar à cabeça que este caderno assume por inerência o Papel Principal mas isso lembra-me uma canção da adelaide ferreira e não pode ser, estamos aqui a tratar de assuntos menos sérios. o caderno abre em registo panzer, com a socióloga que ousou falar de arrebimba o malho na sua autobiografia e a partir daí está lançado o mote para ser entrevistada nos termos em que o é no primeiro número deste farol da imprensa à portuguesa. para uma nova sociologia ficámos a saber que "mário soares tem ar de ter tido inúmeras amantes", que "bárbara guimarães é mais gostável" do que carrilho, ou que "o corpo de sócrates deve ser bem feitinho", as coisas que se dizem de um timoneiro com nome de quem alimenta o espírito, mais do que os abdominais. pensava que lá em oxford se punham todos em filinha-pirilau para remarem, ao ver os resultados produzidos pela academia em filomena começo a achar a vida universitária muito mais interessante.
queria também ressalvar uma nota gráfica, de conceito, desengane-se quem pensava que o logótipo do Sol se limitava a imitar um caracol com passas da versalhes, este jornal possui sim um logótipo multifacetado, que cambiará de cores consoante a estação do ano, o que constitui uma versão moderna das nossas senhoras de fátima de iam do azul ao vermelho consoante a temperatura e a humidade relativas, conseguindo abranger ainda uma generosa fatia de mercado conhecida como a "classe bershka".
sem surpresas o arquitecto saraiva aparece em várias fotografias, em circunstâncias diversas, constituindo-se ele próprio num dos temas de destaque das próximas semanas, com as suas confissões em capítulos relativas à saída do grupo impresa, vivesse o senhor na ásia e ainda o apodavam de pequeno kim jong-il [uma vez que o outro, como se sabe é enorme do alto dos seus tacones lejanos], sucede apenas que não há notícia do aparecimento de um duplo arco-íris aquando do nascimento do arquitecto, acredito que pelo menos dois espelhos de guarda-vestidos tenham aparecido, vão mais com o estilo narciso sem urânio a enriquecer.
na declaração de princípios do Sol afirma-se a sua independência de partidos, associações e seitas, regista-se a franqueza de não barrarem a influência a um ou outro grupo económico, nomeadamente aqueles que se identificam por tons cerise e pela ligação à obra de deus, mas sem cilícios, claro, a não ser que um objecto de mortificação da carne possa fazer render juros, o que é altamente improvável na atrofiada economia nacional.
o primeiro número do Caderno Principal acaba também por reforçar o ambiente de chalaça que rodeia o CDS, actual partido da furgoneta que luta por manter longe o conceito de táxi – recuperando o sentido de humor de pires de lima titula-se aqui que "os Portistas só estão à espera do referendo para abortar a direcção". eu não diria melhor. o líbano 'juntos pela vida' monteiro também não.
refira-se também a secção "mundo real", somatório de páginas de faca, alguidar e gente fofa que faz corar de inveja pedro tadeu, o líder messiânico do 24 horas. "família do assassino explusa da aldeia", "de raptada a milionária", "fiquei sem dinheiro e comecei a assaltar", "vi o meu filho morrer". em assuntos que envolvam dor ou choque emocional deve existir sensibilidade e discrição por parte dos jornalistas na recolha de depoimentos e imagens. esta frase é uma citação directa da declaração de princípios do Sol, tendo em conta o tratamento do tema e a fotografia respectiva que encima este post, suponho que por esta altura joão mira godinho e vasco célio já estejam a enviar currículos para o destak e para o expresso.
de notar que margarida rebelo pinto é colunista com a missão de falar de sexo, nada mais banal, seria a mesma coisa que convidar o josé peseiro para falar, digamos, de futebol. ok, o exemplo não é o mais feliz. só para dizer que margarida é business as usual, só não sei se é peludinha, se é universitária ou se atende em apartamento próprio.
termino esta vista de olhos ao Caderno Principal com uma saudação ao regresso de marcelo rebelo de sousa à imprensa - todos sabemos como ele tem andado arredado dos media - e com um profundo apreço pelo consultório de etiqueta, que se adivinha semanal, destinado provavelmente aos produtores de conteúdos da secção "mundo real".
em post próximo, a revista Tabu.
o Sol visto pelas minhas lentes # 2
Publicada por pedro vieira em 18.9.06
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3 comments:
muito bom... lol
Muito bom o post. Muito mau o jornal. Comprei com imensa expectativa... e sai... aquilo! Quero estar por perto quando vier a crítica à Tabu. Vai ser de gargalhar. Só a parte de economia é que escapa.
Independente, volta, estás perdoado!!
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