podem crer que eu continuo a agradecer a quem tiver a bondade ou a possibilidade de me auxiliar, o caralho

afastado da religião e do conceito de bom samaritano há demasiado tempo resolvo ajudar uma cega ao final da tarde de ontem. saímos juntos do comboio em sete-rios com destino à estação de correios dos restauradores, "eu levo-a lá, fica-me em caminho", palheta agradável, trivialidades, é mais fácil conduzir-me se for eu a dar-lhe o braço, não precisa de avisar das escadas, eu sinto-o descer, estou habituada porque o meu marido até vê, graçolas com os cegos a quem chamam de "audiovisuais", "invisíveis", "audio-mais-qualquer-coisa", perdi a vista ao mexer numa caçadeira, tenho de mandar isto em correio azul tem de chegar amanhã sem falta, eu tiro-lhe a senha de espera, deixe estar eu nunca tiro, tenho de aproveitar o facto de ser cega para passar à frente dos outros, ahahaha, espirituosa, aguardo que seja atendida, que o funcionário dos ctt lhe preencha o registo, que lhe diga que a carrinha chega lá sem falta amanhã [hoje], vai devagarinho mas chega, ai então já durmo descansada, quer dizer se fosse a si não dormia assim tanto, ahahaha, quer que a leve de volta ao metro, oh, ainda aí está que simpatia, leve-me antes à paragem do 46, vou até benfica e apanho uma camioneta para queluz, moro lá e trabalho na amadora, a partir das oito já não ando de metro nem de comboio, é só estrangeiros, uma pessoa pergunta qualquer coisa e ninguém sabe responder, é brasileiros, é aquela gente, os ucranianos e mias não sei quê, esta cidade anda assim, e na baixa? no outro passei lá, que confusão, tudo cheio de negros, parece que vão para lá fazer comícios, a sua paragem é aqui, adeus boa noite, só eu para apanhar uma cega racista e xenófoba, sigo a pé para casa contente por, pelo menos, ela não me ter roubado a carteira.

12 comments:

Anonymous said...

olha que a droga mata rapaz!

eduardo b. said...

fab. provavelmente também achas que esses cabrões dos paraplégicos só servem para chular dinheiro ao estado.

eduardo b. said...

eu queria ter escrito "acha" e não "achas".

pedro vieira said...

ahahaha, esse "s" faz toda a diferença

Ricardo Machado said...

No outro dia fui alvo de abuso por uma anciã de 90 anos que queria atravessar a Avenida da Liberdade com 10 sacos de compras. Estava com pressa, mas sobravam-me 5 minutos(não pensei q atravessar a avenida demorasse mais que isso) decidi pela boa acção. Conversa puxa conversa, fui coagido a subir uma das colinas de Lisboa com as compras da senhora, que me obrigava a parar de 3 em 3 metros para a acompanhar. Por essa altura já me encontrava atrasado para os meus compromissos. Já no cimo da colina, a senhora convenceu-me a levar a carga à sua rua, que não era bem ali. Eu acedi ao pedido, perante o seu ar frágil e cada vez menos inofensivo. Ao chegar à sua rua, disse-me que o mais practico era que eu levasse os sacos a sua casa. Pensei ali, naquele momento, que a idosa teria um filho psicopata em casa e que, cúmplice dos seus intuitos insanos, ajudava a levar vítimas da boa vontade ao covil do assassino. Chegámos à porta do prédio e, tal como tinha desconfiado, queria que levasse as compras ao último andar, onde me aguardava a sua casa(e provavelmente o filho com uma faca do talho). Nessa altura, perante tal visão, e com um nó na garganta, disse-lhe que não. Senti-me livre e saí dali o mais rapidamente possível sempre com a impressão que a senhora me observava até me perder de vista.

Anonymous said...

uuuuuuuu que medo. ajudar velhotes... uuuu ... maricas.

Ricardo Machado said...

Alguns velhinhos são do piorio! Principalmente aqueles que passam à frente na fila do supermercado. E assinar com o nome anonymous também denota alguma mariquice...

Sara Figueiredo Costa said...

Podias ter dito que eras preto... Mas claro que te arriscavas a levar umas belas bengaladas. Memso correndo o risco, tinha piada...

Ricardo Machado said...

corrijo: "prático..."

pedro vieira said...

Sara, acreditas que hoje no meu trabalho falámos nessa possibilidade? lamentavelmente não tive esse rasgo. pior. se calhar em vez das bengaladas ainda ouvia "ná, você não cheira a catinga" ou "não me engana, você não fala à preto" e aí teria de deixá-la no meio da avenida com o sinal aberto para os carros, afiançando-lhe que a paragem era mesmo ali, em piso de alcatrão.

popeline said...

Bem nunca vi uma deficiente receber tantos mimos. Voces não batam mais na ceguinha. Ou então dêem-lhe um megafone e um cavaquinho. Quem sabe se não está ali uma D.Rosa II que vai vender discos World Music?

Chico da Popeline

pedro vieira said...

bem lembrado. a d. rosa foi mastigada e cuspida depois de render uns cobres à máquina ocidental capitalista. não me admirava que por esta altura andasse a ouvir sermões inflamados na mesquita de finsbury park. a nossa sorte é que se ninguém a guiar pode ser que não consiga acertar com a porta da acarruagem do metro, quando for fazer o seu atentado-vingança.