afastado da religião e do conceito de bom samaritano há demasiado tempo resolvo ajudar uma cega ao final da tarde de ontem. saímos juntos do comboio em sete-rios com destino à estação de correios dos restauradores, "eu levo-a lá, fica-me em caminho", palheta agradável, trivialidades, é mais fácil conduzir-me se for eu a dar-lhe o braço, não precisa de avisar das escadas, eu sinto-o descer, estou habituada porque o meu marido até vê, graçolas com os cegos a quem chamam de "audiovisuais", "invisíveis", "audio-mais-qualquer-coisa", perdi a vista ao mexer numa caçadeira, tenho de mandar isto em correio azul tem de chegar amanhã sem falta, eu tiro-lhe a senha de espera, deixe estar eu nunca tiro, tenho de aproveitar o facto de ser cega para passar à frente dos outros, ahahaha, espirituosa, aguardo que seja atendida, que o funcionário dos ctt lhe preencha o registo, que lhe diga que a carrinha chega lá sem falta amanhã [hoje], vai devagarinho mas chega, ai então já durmo descansada, quer dizer se fosse a si não dormia assim tanto, ahahaha, quer que a leve de volta ao metro, oh, ainda aí está que simpatia, leve-me antes à paragem do 46, vou até benfica e apanho uma camioneta para queluz, moro lá e trabalho na amadora, a partir das oito já não ando de metro nem de comboio, é só estrangeiros, uma pessoa pergunta qualquer coisa e ninguém sabe responder, é brasileiros, é aquela gente, os ucranianos e mias não sei quê, esta cidade anda assim, e na baixa? no outro passei lá, que confusão, tudo cheio de negros, parece que vão para lá fazer comícios, a sua paragem é aqui, adeus boa noite, só eu para apanhar uma cega racista e xenófoba, sigo a pé para casa contente por, pelo menos, ela não me ter roubado a carteira.
podem crer que eu continuo a agradecer a quem tiver a bondade ou a possibilidade de me auxiliar, o caralho
Publicada por pedro vieira em 27.9.06
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12 comments:
olha que a droga mata rapaz!
fab. provavelmente também achas que esses cabrões dos paraplégicos só servem para chular dinheiro ao estado.
eu queria ter escrito "acha" e não "achas".
ahahaha, esse "s" faz toda a diferença
No outro dia fui alvo de abuso por uma anciã de 90 anos que queria atravessar a Avenida da Liberdade com 10 sacos de compras. Estava com pressa, mas sobravam-me 5 minutos(não pensei q atravessar a avenida demorasse mais que isso) decidi pela boa acção. Conversa puxa conversa, fui coagido a subir uma das colinas de Lisboa com as compras da senhora, que me obrigava a parar de 3 em 3 metros para a acompanhar. Por essa altura já me encontrava atrasado para os meus compromissos. Já no cimo da colina, a senhora convenceu-me a levar a carga à sua rua, que não era bem ali. Eu acedi ao pedido, perante o seu ar frágil e cada vez menos inofensivo. Ao chegar à sua rua, disse-me que o mais practico era que eu levasse os sacos a sua casa. Pensei ali, naquele momento, que a idosa teria um filho psicopata em casa e que, cúmplice dos seus intuitos insanos, ajudava a levar vítimas da boa vontade ao covil do assassino. Chegámos à porta do prédio e, tal como tinha desconfiado, queria que levasse as compras ao último andar, onde me aguardava a sua casa(e provavelmente o filho com uma faca do talho). Nessa altura, perante tal visão, e com um nó na garganta, disse-lhe que não. Senti-me livre e saí dali o mais rapidamente possível sempre com a impressão que a senhora me observava até me perder de vista.
uuuuuuuu que medo. ajudar velhotes... uuuu ... maricas.
Alguns velhinhos são do piorio! Principalmente aqueles que passam à frente na fila do supermercado. E assinar com o nome anonymous também denota alguma mariquice...
Podias ter dito que eras preto... Mas claro que te arriscavas a levar umas belas bengaladas. Memso correndo o risco, tinha piada...
corrijo: "prático..."
Sara, acreditas que hoje no meu trabalho falámos nessa possibilidade? lamentavelmente não tive esse rasgo. pior. se calhar em vez das bengaladas ainda ouvia "ná, você não cheira a catinga" ou "não me engana, você não fala à preto" e aí teria de deixá-la no meio da avenida com o sinal aberto para os carros, afiançando-lhe que a paragem era mesmo ali, em piso de alcatrão.
Bem nunca vi uma deficiente receber tantos mimos. Voces não batam mais na ceguinha. Ou então dêem-lhe um megafone e um cavaquinho. Quem sabe se não está ali uma D.Rosa II que vai vender discos World Music?
Chico da Popeline
bem lembrado. a d. rosa foi mastigada e cuspida depois de render uns cobres à máquina ocidental capitalista. não me admirava que por esta altura andasse a ouvir sermões inflamados na mesquita de finsbury park. a nossa sorte é que se ninguém a guiar pode ser que não consiga acertar com a porta da acarruagem do metro, quando for fazer o seu atentado-vingança.
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