Pequeno texto ilustrado com Nossa Senhora de Fátima resplandecente (para encaminhar as almas na escuridade deste vale de lágrimas) *
Antes de falar das aparições, vou falar do Pai de Tudo, grande responsável por milagres. Começando pelo princípio, pela Criação, tenho uma ou outra dúvida relativamente ao Design Inteligente: Um Deus que cria o homem com duas narinas e apenas um fígado, não está a pensar em cerveja. Um homem, se fosse feito por mim, prescindia de uma narina. Em vez dela punha lá um fígado que, esse sim, faz muita falta para não sobrecarregar o outro. Outra dúvida que me assola é a existência do Diabo. Haverá alguma razão para a existência duma criatura diabólica com sotaque texano? A meu ver, acho que não. Uma coisa era ter criado um ser ** com recortes literários, feito para tentar Fausto e inspirar o Robert Johnson, outra coisa é deixar que ele faça o que quer da ONU.
No fundo, se Deus não concorda com a Ciência é porque nunca leu Darwin. Tenho mesmo suspeitas que se tenha desinteressado pela leitura depois da morte de Aristóteles. Isso deixou-o demasiado centrado em si, com uns orbes à volta. Não lhe fez nada bem, desactualizou-se, ao ponto de chamar “novo” ao Novo Testamento, livro que tem quase dois mil anos. Tentativas de updates foram mal recebidas: Mestre Eckhart morreu antes do veredicto da Inquisição. Galileu retractou-se e Bruno, esse, não teve sorte nenhuma.
Se a crença em Deus pode ficar abalada pelos exemplos acima, a questão dos pastorinhos não vai ajudar nada.
Começando pelo facto muito curioso que é essa obsessão por borregos que grassa pelo universo judaico-cristão. Convém lembrar que o presépio está cheio de pastores e que Cristo era um Cordeiro que entretinha as gentes com parábolas cujo protagonista era, tantas vezes, um rebanho de ovelhas. E isto culmina na Cova da Iria com os pastorinhos. Mais uma vez, tudo acontece a apascentar borregos, ovelhas e, perdoem-me o calão, animais lanígeros. Mas de vacas, por exemplo, fala-se muito pouco. Por um motivo inexplicável, não se prestam à alegoria. Essa discriminação do gado descredibiliza o fenómeno.
Quanto às aparições, propriamente ditas, compreendo perfeitamente que tenham confundido a mente dos jovens pastores. Era eu pouco mais velho que a Lúcia quando pela primeira vez me apareceu a Madona na TV e tive a sensação, quase uma certeza, de que ela era virgem. Na altura não era pastor, mas fica a semelhança das experiências.
Hoje, mais que tudo, creio que tudo isto não passa duma grande burla. Não apenas Fátima, mas todo o universo benfiquista. E quem está por trás desta confusão, não é outro senão Deus. Se Ele não fosse materialista ateu, seria tudo muito mais fácil de acreditar.
E para fechar, uma frase que Anton Wilson leu numa casa de banho: “Um homem sem Deus é como um peixe sem bicicleta”.
Afonso, inquilino do panóplia e do baixa autoridade
** Isto do ser tem muito que se lhe diga, mas não me quero aqui perder no labirinto da Teologia, sem um fiozinho de Ariadne -- que me perdoe Tomás de Aquino mais a sua Suma, mais Agostinho e a sua privatio boni.
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