a minha estreia


começava a parecer mal contar com o meu nome na barra lateral e nada postar, verbo metido à bruta pelos bloggers no léxico cá da terra, eu posto, tu postas, ele posta, só o vieira é que não postava, por manifesta preguiça aguda. ou mesmo pela obsessão que o tipo tem pelo seu próprio blogue, misto de atitude umbiguista e... como é que se diz em termos técnicos? ah, parvoíce. por falar em defeitos, traz-me aqui uma leitura que fiz já há umas semanas, leitura essa realizada em grande parte encostado a um ancoradouro de pedra em cacilhas – I luve ya margem sul – e aponto à questão dos defeitos, ou pontos fracos, como soi dizer-se entre os defensores das análises swot, pelo facto de o autor ser brasileiro. e judeu, ainda por cima. e médico, ou seja feiticeiro, porque como se sabe médico no brasil só se for a esmagar plantinhas na amazónia para dar a emborcar aos índios do xingu e aos narcotraficantes lançados de helicóptero pelas máfias rivais. houve muita gente queimada por menos do que isto. e isto, que tem a ver com literatura? tudo. ou melhor, tem tanto a ver com literatura como o título do livro em apreço tem a ver com o seu conteúdo. a orelha de van gogh é um livro de contos. soturno, mordaz, ácido, como eu gosto. o conto que dá título ao livro não é dos mais interessantes embora meta ao barulho uma falsa orelha de celebridade encarquilhada em formol e eu para petisco até prefiro outros acepipes. seja como for, gostei imenso do moacyr e dos seus relatos, são um bálsamo para o meu universo particular, amigo do negrume e do sorriso desconcertante. além disso o autor escreve com a fluidez e o desprendimento que são apanágio da rapaziada de vera cruz [e penso tratar-se da primeira vez que se escreve apanágio neste blogue], impensáveis para os criadores em língua portuguesa que estão aqui no nosso rectângulo; aliás, como se sabe, para se ser escritor em portugal é necessário ser-se deprimido, falar de pechichés e sonhar com lutas no mato apimentadas por turras. ou gostar muito de sofrer. horrores. ou de escrever com o coração, sem se perceber que isso é uma chafurdice tremenda. para cardiotorácica basta-me a escrita cirúrgica do doutor scliar. o livro abre com um monumental conto em que uma família rural enfrenta as pragas do egipto, aquelas mesmas do antigo testamento. não a poluição das pirâmides, os souvenirs medonhos ou a condução anárquica do cairo. um mimo. não me perguntem por gramáticas, complementos, sufixos e figuras de estilo. limito-me a definir a orelha de van goh em duas palavras: gostei. oops.

texto originalmente publicado no blogue arte de ler, local onde sou uma espécie de filipe o belo no meio de cavaleiros do templo. mas sem a parte do belo que, como é evidente, banha apenas o meu camarada sérgio.

literatos imperfeitos # 6

para Ruca o melhor livro do pedro paixão é sem dúvida o viver todos os dias canzana.

entre correntes

o luis-carlos desafiou-me a continuar outra corrente. com contornos assaz estranhos pede-se que peguemos no primeiro livro à vista, rumemos à página 161 e transcrevamos para o blogue a 5ª frase completa. parece estranho mas um país que dá tempo de antena ao cláudio ramos há muito que banalizou o bizarro. cá vai então, depois de dois engulhos – o primeiro livro que vi cá em casa não tinha 161 páginas. o segundo também não, era de banda desenhada. à terceira saiu-me isto:

a ambiguidade da imagem é dada pela luz, a rapariga está ou a obedecer ou a troçar de uma ordem fascista, ou então as duas coisas.

rosegarten, ruth, compreender paula rego, colecção Público/Serralves

nem em ambiente de follow up consigo despir a capa vermelhusca que se me cola às costas com escoliose destro-convexa. na verdade até deploro que a minha coluna se esteja a dobrar para a direita. tendo dado seguimento a uma corrente no dia de ontem, e vestindo a farda de graham chapman enquanto major, digo que tudo isto é muito silly e a correnteza fica-se por aqui.

biblioteca de baboseirel # 8

a insuportável leveza do ser, de mlan kurundera.

equador, sétimo selo

primeiro foi o henri michaux que roubou o título ao sousa tavares. agora foi o bergman que roubou o rodrigues dos santos. cabrões dos estrangeiros, todos prá terra deles.

caçada big five


We train young men to drop fire on people. But their commanders won't allow them to write "fuck" on their airplanes because it's obscene.


- Je viens pour l’annonce
- Quel annonce?
- L’annonce au journal
- Quel journal?
- Les Temps dificiles
- Ah.


Première absurdité : tuer qui nous engendre c'est, purement et simplement, nier la vie. Seconde absurdité : tuer qui par son amour et son autorité nous élève, c'est nier notre propre histoire. La principale source de l'absurdité est l'ignorance. La principale source de la violence, la perte de notre langue.

- In the East, the Far East, when a person is sentenced to death, they're sent to a place where they can't escape, never knowing when an executioner may step up behind them, and fire a bullet into the back of their head.
- What's going on?
- It's been a pleasure talking to you.




The way your dad looked at it, this watch was your birthright. He'd be damned if any slope's gonna put their greasy yellow hands on his boy's birthright. So, he hid it, in one place he knew he could hide something: his ass. Five long years he wore this watch . . . up his ass.


fui desafiado pelo hugo a revelar as minhas cinco películas. eis o veredicto. endosso o desafio não a cinco mas a três vítimas. ao , ao chico e à rita . se lhes aprouver.

ah, e já agora ao salafrário do cenas obscenas que passa a vida a chular-me os talentos.

houve aqui um post que relacionava vaticano, franquistas e o beato salu. saíu tão desinspirado que se transformou nesta boutade pós-modernista. e será a primeira vez que aqui se escreve boutade. sem gargalhar.

we don't live in the same planet anymore

a páginas tantas, durante o magazine de ontem, ricardo araújo pereira glosou um português em dificuldades como alguém com um salário de 900 euros. e esse foi o momento que me deu mais vontade de rir até ao genérico final.

biblioteca de baboseirel # 7

o evangelho segundo são mateus, de josé saramago.

pela A1 acima abaixo

fim-de-semana de visita aos minhos, para controlar o obrame da casa materna com empreiteiro à distância, mais esguio que um curdo depois de deitar fogo aos sapatos de um militar turco, quem diz a um diz a duzentos e depois é o forrobodó que se vê, na turquia como no verde minho, por estes dias solarengo e prazenteiro, propício ao encher de pança entremeado com tarefas práticas e dichotes de parar o trânsito. ou mesmo a procissão, que entre minhotos há mais andores que automóveis, oratórios, cruzes, basílicas e capelas, são bentinhos, terras com nome de Alívio, por um triz seria Ai Jesus, ou Já Vos Safásteis, Caralho e lá desbastámos um monumental bacalhau à narcisa, afogado em azeite e cebola frita, eu e mana a ganharmos o nome enfarte coronário imediatamente antes do vieira, ainda foi uma sorte sermos servidos depois de o meu cunhado armar ao herege da cidade e apelidar a terra de Delírio, o deboche trazido auto-estrada acima, sorte nossa que no norte ainda não há fatwas. au contraire, há é muitas fátimas, como a minha prima, há rosas, como a minha prima, há sameirinhas, como a minha prima, há velhas chamadas mariquinhas e a há a fina flor dos motéis apelidado de Bracancun, o que esta gente se pela por um bom nome, arrebimba o malho em terra de arcebispos com o perfume da riviera maia, discrição e conforto, dizem eles, aperta-me aqui o sombrero ou a ver se entalo a frida khalo, digo eu. entre o bacalhau e o sarrabulho a meias com uma dobrada com feijão branco entrámos em rua congestionada da angelical vila verde, terra onde haverá concerteza a rua do mata-ciganos, ou a travessa do lincha-lelos, ou a praça do maldito lenine. por uma dessas devemos ter enfiado quando demos com um camião do lixo desembestado em marcha-atrás, acompanhado por um peão da câmara local a mandar-nos dar meia volta e quando enfiamos o focinho da carripana por uma perpendicular para executar a inversão de marcha deparamos com um carro da gnr, de onde sai apressado o agente a bufar 'para onde é que vai, por aí é proibido', o meu cunhado justifica-se com as exigências do moço da autarquia e o agente solta o desabafo, 'oooh, isso é uma seita do caralho', assim à boca cheia, fazendo jus ao minho como terra de confessionários, este à beira da estrada e sem cortinas, mas com avaliações deste calibre deus nos livre de uma crise institucional forças da ordem vs município, há equilíbrios no modus vivendi do país que convém não degradar, sob pena de os ciganos de oleiros andarem demasiado folgados.
no domingo faxina ligeira na dita casa work in progress, visita ao cemitério, flores na jarra, água no mármore e um limpar de fotos de gente que ainda deveríamos poder olhar nos olhos, ladeira abaixo que é como quem diz toca a descer pela auto-estrada com passagem pela terra dos fornos, a tabuleta de cantanhede/mealhada é uma espécie de saída de emergência para gulosos, carro no parque do meu homónimo dos leitões, pequena lista de inscrições e a coroa de glória da viagem aterra-me na cabeça, o homem do micro manda avançar para as mesas o senhor vieira [eu], outro fulano anónimo e o nosso [deles] amigo marco paulo, ali, ao vivo e a cores, disposto a trocar o maravilhoso coração por uma artéria entupida com molho de pimenta, vinho espumante e peles crocantes, duas mesas ao lado da minha de onde se vislumbram bem as sobrancelhas arranjadas, as quais não cusco demasiado não vá fugir-se-me o apetite e há que forrar o estômago para enfrentar o trânsito intenso da A1, sinónimo no dicionário houaiss de 'estaleiro de obras', depois a clássica fila pirilau pela segunda circular, que ao momento em entrámos na cidade exsudava bólides na direcção aeroporto-benfica, preparava-se para jogar o glorioso, e que melhor epílogo para uma catrapiscada ao país profundo do que a vista para as roulottes fumegantes e os carros empilhados em ângulos que fazem inveja ao abrir de pernas da elsa raposo. viva portugal.

ranquingue

a escola secundária onde me fiz homem. moço, vá. não mais que um fedelho, pronto. dizia, essa escola ocupou este ano o 303º lugar no badaladíssimo ranking dos triunfadores e dos losers. poderia tentar analisar as ilações que se podem tirar de tal classificação mas não fiquei com instrução suficiente na cabeça para tal. talvez com as novas oportunidades.

politólogos imperfeitos

Ruca relembra que não é preciso haver cimeiras para se saber que lisboa está cheia de putins, desça-se a do bem formoso e está lá tudo aos magotes.

*ps: a fase final deste post elude o substantivo 'rua', forma de glosar o lobo antunes que esconde palavras nas doutas sentenças dos seus folhetins anuais, agora também autografados em séries limitadas a 45 euros o quilo. desgraçadamente ainda posso vir a ser deslegitimado publicamente com esta brincadeira uma vez que nunca estive na guerra colonial. mas a criação de uma manobra de diversão em que o ps é maior do que o post em si é da minha safra. toda.

crónica de um pastiche anunciado

ide, ide ver a descoberta do zé mário e depois ride de alegria com a qualidade literária da nossa homeland.

se alguém duvida da profundidade da Crise ponha os olhos nisto

hoje recebi um email, acompanhado de um curriculum vitae e portefólio em pdf, em que me pediam emprego.

breton, buñuel, dalí, magritte, abriram o caminho

que se cerrou na estação dos ctt dos restauradores, pelas 21:35

a senhora come muito feijão?
quê?
se come feijão?
porquê?
esse laço rosa que traz ao peito...
isto? é para ajudar aquelas pessoas da mamografia. que têm cancro.
então a senhora que é da área da biografia responda-me uma coisa.
eu sou de biologia, não sou de biografia.
ah pois. então e acha que é possível distinguir quando nos estão a vender um cágado ou uma tartaruga?


registei a carta, paguei, saí e fui a planar para casa avenida acima. sempre à espera de ser atropelado por uma girafa em chamas.

a galinha da minha vizinha é sempre melhor do que a minha # não sei quantos


a boa e velha suíça


fosse Ruca um livreiro e as ideias para galhofa choviam como pedras

hoje perguntaram-me a nacionalidade do escritor-filósofo-autor de bestsellers Raymond Gaita. just for the record, é gaita de ascendência germânica.

lembrete

na terra do papão amigo de fidel, algoz das liberdades, ditador encapotado com péssimo gosto para camisas, cantor ridículo de êxitos am/fm, parece que a tal televisão amordaçada afinal continua a emitir. só que isso já não faz grande notícia e os blogues dos liberais à portuguesa têm outras damas como o james watson para defender.

magistrados imperfeitos

Ruca pensa que pode ter os intestinos sob escuta, às vezes também produzem uns barulhos esquisitos.

o SAAL, o problema da habitação, o urbanismo, o cooperativismo, a participação popular, todos resumidos numa só sentença

o senhor arquitecto faça a casinha como se fosse para si e assim eu hei-de gostar concerteza.

excerto d'as operações saal, de joão dias


politólogos imperfeitos

Sandro discorre sobre a presença de gémeos na política e conclui que não é só na polónia que a curiosidade se faz notar. cá no rectângulo vemos agora um líder parlamentar que parece mesmo o irmão gémeo daquele que abandonou a política a propósito de um sketch no big show sic. e em boa hora o fez, para agora dar lugar ao seu máscara de ferro.

cinéfilos imperfeitos

Ruca ligava mais ao documentarismo se o festival se chamasse fock lisboa.

mais vinte discos que me custava ver incinerados às mãos do ministério para a promoção da virtude e prevenção do vício # 2


fell off the floor, man



e ainda há quem tenha a ousadia de restringir a silly season aos meses de verão

forma de lidar com pilinhas dos bebés não reúne consenso entre a comunidade médica.

notícia de destaque da página 7, Público de 21 de outubro [sem link]

com as tamanquinhas deles


duas imagens que me marcaram na sessão dupla de ontem à noite no doc lisboa – no filme sobre o zeca conseguiu-se pôr a fadista de viela raquel tavares com o glamour de uma björk das farturas. no documentário sobre os sex pistols kowalski filmou um anão entrevadinho em cadeira de rodas na linha da frente de um concerto, agitando os braços no mesmo comprimento de onda dos selvagens que dançavam o pogo e faziam o mosh. a capacidade de superação perante a música nunca deixará de me surpreender.

spell me something new

a última entrada via google no irmaolucia fez-se com a pesquisa homens e mulheres em senas obsenas. fico descoroçoado. não pela licenciosidade do tema, sim pela ortografia.

mesmo sem frequentar um campo evangélico



também tenho jesus no meu coração


a galinha da minha vizinha é sempre melhor do que a minha # não sei quantos


evolucionismo james watson, estreado no sítio do costume


melómanos imperfeitos

Ruca não liga muito ao jobim mas tem um fraquinho pelas águas de marsápio.

jesus camp, jesus kampf



fui ver. e mesmo que não visse mais nada o doc 2007 já teria valido a pena. e apesar da comicidade de algumas passagens a palavra que melhor define o meu balanço do filme é 'apreensão'. repete dia 22 no londres.

a galinha da minha vizinha é sempre melhor do que a minha # não sei quantos


o caminho de benazir, estreado no sítio do costume

amores imperfeitos # 141

Sandro tece loas ao futuro radioso de egoyan, Carina só acredita nessa hipótese se o tal egoyan tiver emigrado para a Alemanha, como o fábio, filho da dona alzira.

brindar ao tratado, um ultraje

se ao menos tivessem revelado o paradeiro da maddie ainda se justificava o murganheira.

em cada cecilia uma racaille

a ex-primeira dama terá alegado incumprimento conjugal por homossexualidade já que nicolas insistia em correr para o eliseu.

mais vinte discos que me custava ver incinerados às mãos do ministério para a promoção da virtude e prevenção do vício # 1

tomo dois de uma série de posts que dificilmente se ficaria pelas vinte escolhas anteriores, horizonte curto para tanta música que me infesta a cabeça. mantém-se a premissa – não repetir protagonistas. bem-vindos então à liga de honra dos álbuns irmaolucia.




but not for me



espaço pub

© rabiscos vieira

abriu mais uma casa ilustre na blogosfera à portuguesa. o gattopardo, animal que alberga os dois pedros, mexia e lomba, há muito apartados nestas lides do blogspot. e não deixa de ser curioso pôr-me a destacar um local com conteúdos com os quais dificilmente concordarei, é um pressentimento que tenho, mas à qualidade da escrita e ao raciocínio crítico já estou rendido. sejam então benvenutos ou lá o que é.

load " "

o spectrum faz hoje três anos. e fá-los muito bem. parabéns à esquerdalhada que pode assinalar aniversários, situação que não aconteceria se fosse um blogue jeová.

wassup doc?

o evento está aí e promete trazer o tal mundo a lisboa enfiado no formato documentário. e fá-lo muito bem. naturalmente, se pudessem impedi-lo, os organizadores do doc lisboa barrariam esta publicidade feita no irmaolucia, uma vez que, para desprestígio, já lhes basta assentarem grande parte dos arraiais no medonho parténon da joão XXI onde funciona a culturgest.
frequentei avidamente as duas edições anteriores, vi óptimos filmes e tropecei noutros por acaso como quando entrei por engano no house de amos gitai. pior foi quando voluntariamente me apresentei para assistir à vida das freiras estonianas segundo pirjo honkasalo, se o arrependimento matasse e ainda por cima aquela história do dolo eventual que agrava as penas e não sei quê, bem me poderia ter desgraçado, com os olhos postos no báltico e o cérebro em estado comatoso. este ano também já me muni de vários bilhetes, participando inclusive numa espécie de peddy paper involuntário, já que é necessário deslocarmo-nos aos locais de projecção de cada filme para comprarmos os ingressos, ou seja queres vir à culturgest e comprar bilhetes para o londres? isso é que era bom, já agora era o cuzinho lavado com água de malvas, fica-te antes pela água de mágoas e dá a corda aos sapatos até à avenida de roma, e é se queres, sucede que fui lá ontem para tentar fazê-lo e um papel escrito em bonitas letras de imprensa anunciava a impossibilidade de compra de ingressos 'por motivos técnicos'. mas se o choque tecnológico ainda não chegou aos festivais de cinema a qualidade dos filmes antecipou-se-lhe e como tal tentarei deglutir o possível; com muita pena não poderei assistir à abertura, trabalhador por turnos sofre, ayudame tiengo molestia per favore que não posso assistir ao taxi to the dark side, compreendo que a pseudo-luta contra o terrorismo não pode justificar a tortura mas que levante a mão o primeiro lisboeta que não gostava de ver um fogareiro infestado de sevícias. o doc lisboa está prestes a arrancar, bom proveito.

define 'gira'. e já agora diz-me em que talho é que a rtp contrata os comentadores

este byakov tem uma história gira. no dia em que completou 25 anos foi a uma discoteca comemorar o aniversário e acabou por ser apunhalado muito perto do coração. até teve a carreira em risco.

tirada largada en pasant durante o cazaquistão x portugal

ouvido de esguelha

consta que o marques mendes ficou tão desesperado com a derrota que tentou enforcar-se num bonsai.

continuamos a ter em portugal dois milhões de pobres

mas o centro comercial dolce vita em alfornelos vai ser o maior da europa. a ver se lá cabem os outros oito milhões em busca de um trapinho mango ou de uma asinha de frango frito.

afortunadamente não acordei com um gnr na cama

esta noite sonhei com o josé sócrates

literariamente falando

não haja dúvida que 2007 é o ano do grelo.

amores imperfeitos # 140

Sandro tece rasgadas loas à viagem ao fim da noite de Céline, Carina ainda assim prefere a banda sonora do titanic.

vito, you've done bad to the channel

quem já experimentou o hermetismo e o espírito omertà do serviço de apoio a clientes não pode evitar sentir-se como assinante da tv capo.

futuros imperfeitos

Carina já decidiu, quando tiver uma cria – um fábio ou uma solange – quer que ela estude para filho de jardim gonçalves.

cinéfilos imperfeitos

depois de assistir à vida interior de martin frost com irène jacob Ruca compreendeu que musa nunca mais rimará com tusa.

grande gala 'azinheira spoken word', edição com extras



as aparições ao serviço da educação. e com locução de fino recorte.


a galinha da minha vizinha é sempre melhor do que a minha # não sei quantos


ganhar o kitsch em 2009, estreado no sítio do costume.

até se ouvem as gargalhadas do nursultan nazarbayev

os países da ásia central e do cáucaso como o cazaquistão estão numa fase de transição democrática, vindos de uma ditadura soviética de partido único.

joão soares no jornal das 9, impersonating borat

banqueiros imperfeitos

apesar de não ligar pevas às olimpíadas da matemática Ruca gostava de fazer como o BES e estar sempre por trás.

ao assistir ao jornal das 9 com o mário crespo

dou-me conta que o analfabetismo campeia com tal à vontade que este blogue não perdia nada em promover uma gala 'joe berardo spoken word'. havia de ser bem mais divertida.

costureiros imperfeitos

Ruca achava muito mais vantajosa a realização de uma foda lisboa.

grande gala 'azinheira spoken word', edição com extras


O meu menino Jesus


Aparições há para todos os gostos, já dizia um conhecido filósofo grego que se os cavalos acreditassem em seres superiores imaginavam-nos à sua imagem e semelhança.
Confesso não ter admiração por ovelhas, nem por pastores negros das almas. Cada um de nós deve tratar de conseguir traçar o seu caminho, sem segredos que amarrem.
O que queremos é matéria do que sonhamos. Aparição por aparição, prefiro este quadro de Dalí. Sempre são seis aparições e também explodiram em 1917.


Nuno, inquilino do 5 dias.

no epílogo da grande gala, um pensamento

foi bonita a festa, pá. sobretudo mais bonita do que certa e determinada ida da criança que já fui, em excursão partida de braga com avó e família a preceito, eu a vomitar-me que nem um condenado, sempre o fiz no tempo pré-enjomin, ou vomidirine, nome bastante gráfico, no meio de carrapitos, alcofas e parentes, merendas e medalhas, arrotos e vivas e cânticos, e a chegada à cova, com a cámenéte já estacionada, com a procissão de ajoelhados de proporções épicas, ainda sem rampa a condizer, pedaços de corpos em cera, buços, roçagares e sovaco com cheiro a estrugido, visita ao museu da cera que fazia corar o comboio-fantasma de vergonha, enfado, medo, roupa escura, suar frio, um gigantesco cristo agrafado a um gigantesco crucifixo, sacudir as migalhas do colo, voltar à cámenéte, suar. e vomitar. muito, até bracara augusta, terra de meu baptizado há muitos, muitos anos.

obrigado a todos os amigos bloggers que aderiram, para a próxima fala-se na paz no mundo. ou no fim da fome das crianças. ou em qualquer outro tema tão miss universo como as aparições.


grande gala 'azinheira spoken word', tomo 13

Fast Fátima


Em tempos, Portugal tinha 3 efes. Fátima, fado e futebol. O efe do meio caiu com Abril. Hoje é um género musical respeitado, apreciado e cantado, há até quem diga que está em renovação. Ora, renovação é coisa bem pouco portuguesa. Por isso, o efe de fado caiu. O de futebol mantém-se, ontem como hoje. Mas por ser tema profano, deixo-o de lado. Resta Fátima. Fátima, nome de gente, de local, de milagre, de entretenimento e de fé. Andava um bocado em baixo desde 74, coitado. Até que o PP (papa polaco) decidiu reabilitá-lo. Primeiro com a beatificação do trio pastoral, depois com a revelação do Terceiro Segredo (que curiosamente o incluía a ele próprio). Mas não bastou. Entretanto, o PP morreu e Fátima lá se aguentou como um efe nacional.

Ora, em Portugal, tem que andar tudo aos trios.É um verdadeiro país tridentino. Os pastorinhos eram 3, a Santíssima Trindade era trina, Deus, Pátria e Família também era um trio, os símbolos da nação são três, até o concurso televisivo mais famoso de todos os tempos descrevia a sublime progressão numérica que vai de um a três, adequada ao nível das aptidões matemáticas lusas.

Podiam os efes nacionais ficar truncados? Claro que não. Mas onde ir buscar outro? Figo? Demasiado novo. Foda? Demasiado obsceno. Folclore? Demasiado pindérico. Fidalguia? Demasiado monárquico. Portanto, houve que lançar mão, e rapidamente, de uma solução de recurso, inaugurada ontem: o desdobramento do efe de Fátima. Aliás, deve estar previsto na Concordata, senão tinha havido problema. E pelo ar satisfeito das autoridades deste estado laico, ontem, ao reafirmar as excelentes relações entre o estado português e a Santa Sé, presumo que estamos todos de acordo.

A inauguração da 4ª maior catedral católica do mundo foi o primeiro passo desta nova e maravilhosa dialéctica nacional entre tradição e modernidade, laicidade e religião, raízes e futuro, bom rebanho e bons pastores: Fast-Fátima. Um altar do Portugal Global, a consumir de forma célere e maciça, mesmo que cause problemas à alma com o aumento do colesterol e de gorduras espirituais e que seja muito pouco saudável. Mas que importa isso? Saúde não começa por efe, oh porra. Fast-Fátima vai ser servida por um novo aeroporto e por uma estação de TGV, para que todos desfrutem desta maravilha do novo milénio. Prevejo o rápido surgimento de pacotes turísticos low-cost, com inclusão de travessia de joelhos (em várias modalidades e extensões), visitas guiadas, orações personalizadas, pack promocional de lembranças diversas e reserva assegurada de lenços brancos para a despedida. Para os mais afortunados, haverá mesmo vouchers exclusivos com inclusão de pequenos milagres, a escolher de entre um lote de disponíveis. Para quem preferir uma opção mais modesta ou não se puder deslocar, será disponibilizada uma opção de pagamento de promessas on-line, aceitando-se os principais cartões de crédito.

Este cenário pareceu-me, durante muito tempo, um disparate. Ontem, ao ver onde foram gastos 80 milhões de euros neste país de iletrados e ao examinar a programação do principal canal de televisão pública desta nação laica, percebi que não é. É apenas uma antevisão de um amanhã glorioso. Não daqueles que cantam. Daqueles que se ajoelham e rezam.



Cenas Obscenas, aka o blogger suplente, aka o intruso, aka o salvador da contabilidade minada por um ou outro herege que arderá, senão no inferno, pelo menos num potentíssimo fogão meireles, inquilino no womenageatrois.



grande gala 'azinheira spoken word', tomo 12

Pede-me o Irmão Lúcia que alinhave algumas considerações sobre os 90 anos de Fátima. Não sendo de todo um especialista, estranhei o pedido, mas não quis negar-me a tão simpático convite. Por falta de tempo (acabo de chegar de uma curta volta ao mundo), decidi recolher alguns dados a partir de uma pesquisa rápida na Internet, onde superabunda informação sobre o assunto.


Consciente embora da força que o lóbi da Arte Contemporânea tem junto de Fátima, surpreendeu-me a modernidade estilística da aparição. Dizem as testemunhas que a grande revelação se deu quando Fátima surgiu vestida apenas com um biquini feito de ouro e diamantes, imagem que muito deslumbrou o povo e ficaria gravada de forma indelével na memória de quem teve a rara oportunidade de a presenciar. O culto da aparição tornou-se de tal modo arrebatador que existe até um modelo barbie de Fátima com o seu biquini, e cujas vendas ultrapassaram em muito as das estatuetas de Diana de Éfeso, em tempos um gigantesco sucesso comercial. Foi também com alguma surpresa que soube que Fátima lançou uma colecção de óculos, o que pode ajudar a explicar a célebre expressão de fé «Eu estava cego, mas agora vejo».


Eis algumas revelações de Fátima, tal como as encontrei referenciadas em vários sites e blogues:


Não há gente feia.

Nós nascemos nus.

Andamos vestidos para nos protegermos do frio.

Não existem dois manequins iguais; uns são mais magros, outros são mais gordos.



A revelação mais extraordinária e transcendental, porém, foi proferida durante um desfile em Paris (não esqueçamos que se viviam tempos de guerra) e, a ser verdadeira, deitaria por terra o imaterialismo, o dualismo cartesiano, o solipsismo, o cepticismo, o idealismo alemão e o positivismo, para não falar na lógica aristotélica:


Não há nada falso: é tudo verdadeiro, desde a raposa aos visons.


Consta que disse também:


Eu sou a favor das peles
.


Alguns interpretam a frase como uma exaltação literal da virgindade. Outros, argumentando que uma tal interpretação seria de uma crueza pouco consentânea com a dignidade da figura que a proferiu, afirmam que se trata de uma exortação aos homens e mulheres de boa vontade para que não andem por aí em carne viva.


Aparentemente devido às revelações supracitadas, Fátima tem sido atacada com uma virulência a que raramente se assiste em ofensivas contra outros cultos. Pelo que pude perceber, os seus detractores contestam sobretudo o capítulo da fé que sustenta ter o homem direitos absolutos sobre o animal, incluindo o de lhe arrancar a pele em vida se com isso se obtiver aquele brilho sedoso tão especial que se percebe em certos agasalhos quando a luz do sol neles incide sob um ângulo muito particular.


Para terminar: vi fotografias de Fátima e sou forçado a admitir que, aos 90 anos, não é comum as formas femininas serem assim tão redondas. Só não vê quem não quer que se trata de um milagre – ou de um pacto com o deus das moscas, que nos dias que correm está difícil perceber quem é o quê.


José, inquilino do bandeira ao vento

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 11

1917: just a crazy year




Daniel
, inquilino do arrastão.

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 10

COVA DA IRIA (E EU FUI)


Sim, sei do que falo, não é por ouvir dizer. Eu estive lá, em Fátima, no Santuário, num 13 de Maio, com os peregrinos todos à volta e as velinhas acesas como um mar de chamas a fazer lembrar, perdoai-me ó crentes, mais um reflexo do inferno do que a via para a salvação das almas (seja isso o que for). Eu estive lá e vi isso a que muitos chamam as “manifestações da fé”. Joelhos rasgados, lágrimas, mulheres de negro a arrastarem-se pelo chão em nome de uma promessa. E vi camponeses com terra por baixo das unhas, pasmados com a grandeza do Santuário. Velhos a aliviarem as dores dos pés cheios de bolhas, mergulhando-os em alguidares de plástico com um palmo de água. Ouvi rezas murmuradas pela multidão, cantilenas esganiçadíssimas (“Avé, Avé, Avé Mariiiiiiiiiiiiiiiia”), a voz pastosa dos bispos, um holocausto de cera a derreter junto à capela onde Nossa Senhora espera em forma de estatueta pela lentidão ritual das procissões. Estive no meio daquilo tudo, como quem olha de fora para uma coisa que não compreende, à espera de compreender. No meio daquelas pessoas que fizeram centenas de quilómetros a pé só para estar diante do “altar do mundo”, pedindo à Virgem milagres cuja mera formulação desrespeita quem na verdade os tornou possíveis (os médicos, por exemplo; mas tantas vezes o acaso), no meio daquelas pessoas tentei descer da minha condição de ateu assumido, laico até à medula e com acessos frequentes de anti-clericalismo, para me aproximar de linguagens que me são estranhas. Juro que tentei. Mas não consegui. Porquê? Nem vale a pena explicar. Vocês sabem. Fátima é um embuste, uma alucinação de miúdos impressionáveis que a Igreja aproveitou para circunscrever, à distância, o perigo vermelho que começava a emanar da velha Rússia. Tudo o resto é esperteza saloia (os três segredos), crendice de raízes pagãs e retórica reaccionária urdida pelo lado mais obscuro da hierarquia católica. Terceiro-mundista, anacrónica, parola, com as suas lojas de pechisbeque e néon, atafulhadas de Cristos em holograma e Nossas Senhoras que mudam de cor com a humidade, Fátima continua a atrair magotes de gente? É verdade. Como há magotes de gente a estupidificar-se ao domingo nos centros comerciais e a dar maiorias absolutas a Alberto João Jardim. Eu estive em Fátima, num 13 de Maio, por entre as velas. E onde tantos encontram serenidade e conforto, só descobri, em todo o seu esplendor (isto é, em toda a sua miséria), o Portugal que me desilude e agride a cada passo. Para muitos, Fátima é a luz. Para mim, continua a ser um calafrio.


Zé Mário, inquilino d'a invenção de morel

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 9


Pequeno texto ilustrado com Nossa Senhora de Fátima resplandecente (para encaminhar as almas na escuridade deste vale de lágrimas) *


Antes de falar das aparições, vou falar do Pai de Tudo, grande responsável por milagres. Começando pelo princípio, pela Criação, tenho uma ou outra dúvida relativamente ao Design Inteligente: Um Deus que cria o homem com duas narinas e apenas um fígado, não está a pensar em cerveja. Um homem, se fosse feito por mim, prescindia de uma narina. Em vez dela punha lá um fígado que, esse sim, faz muita falta para não sobrecarregar o outro. Outra dúvida que me assola é a existência do Diabo. Haverá alguma razão para a existência duma criatura diabólica com sotaque texano? A meu ver, acho que não. Uma coisa era ter criado um ser ** com recortes literários, feito para tentar Fausto e inspirar o Robert Johnson, outra coisa é deixar que ele faça o que quer da ONU.

No fundo, se Deus não concorda com a Ciência é porque nunca leu Darwin. Tenho mesmo suspeitas que se tenha desinteressado pela leitura depois da morte de Aristóteles. Isso deixou-o demasiado centrado em si, com uns orbes à volta. Não lhe fez nada bem, desactualizou-se, ao ponto de chamar “novo” ao Novo Testamento, livro que tem quase dois mil anos. Tentativas de updates foram mal recebidas: Mestre Eckhart morreu antes do veredicto da Inquisição. Galileu retractou-se e Bruno, esse, não teve sorte nenhuma.

Se a crença em Deus pode ficar abalada pelos exemplos acima, a questão dos pastorinhos não vai ajudar nada.

Começando pelo facto muito curioso que é essa obsessão por borregos que grassa pelo universo judaico-cristão. Convém lembrar que o presépio está cheio de pastores e que Cristo era um Cordeiro que entretinha as gentes com parábolas cujo protagonista era, tantas vezes, um rebanho de ovelhas. E isto culmina na Cova da Iria com os pastorinhos. Mais uma vez, tudo acontece a apascentar borregos, ovelhas e, perdoem-me o calão, animais lanígeros. Mas de vacas, por exemplo, fala-se muito pouco. Por um motivo inexplicável, não se prestam à alegoria. Essa discriminação do gado descredibiliza o fenómeno.

Quanto às aparições, propriamente ditas, compreendo perfeitamente que tenham confundido a mente dos jovens pastores. Era eu pouco mais velho que a Lúcia quando pela primeira vez me apareceu a Madona na TV e tive a sensação, quase uma certeza, de que ela era virgem. Na altura não era pastor, mas fica a semelhança das experiências.

Hoje, mais que tudo, creio que tudo isto não passa duma grande burla. Não apenas Fátima, mas todo o universo benfiquista. E quem está por trás desta confusão, não é outro senão Deus. Se Ele não fosse materialista ateu, seria tudo muito mais fácil de acreditar.

E para fechar, uma frase que Anton Wilson leu numa casa de banho: “Um homem sem Deus é como um peixe sem bicicleta”.


Afonso, inquilino do panóplia e do baixa autoridade


* Era para ser uma das fluorescentes, mas esta faz o efeito.

** Isto do ser tem muito que se lhe diga, mas não me quero aqui perder no labirinto da Teologia, sem um fiozinho de Ariadne -- que me perdoe Tomás de Aquino mais a sua Suma, mais Agostinho e a sua privatio boni.

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 8

para quê complicar se a resposta anda por ali à mão de semear? e é grátis!



Sempre me fez muita confusão que ninguém se tivesse debruçado sobre a evidente, e mais que provável, relação entre os Psilocybe cyanescens e os pastorinhos. O Outono é a época deles, abundam na Península Ibérica, em especial no meio rural e têm como um dos efeitos mais frequentes as alucinações (cuja definição se adequa perfeitamente a aparição . Cfr Hallucination: A profound distortion in a person's perception of reality, typically accompanied by a powerful sense of reality. An hallucination may be a sensory experience in which a person can see, hear, smell, taste, or feel something that is not there .http://www.medterms.com/script/main/art.asp?articlekey=24171). No fundo, no fundo aquilo não foi mais do que uma esplendorosa trip colectiva, assim uma rave vintage sem tecno (o que me parece justo, coitadinhas das crianças, o futuro reservar-lhes-ia tantos e tão trágicos tormentos que serem poupadas a alucinar ao som do infernal som era o mínimo que se pedia).


Shyznogud, inquilina do womenageatrois

intervalo na gala

segunda parte lá mais para a noitinha. fernando mendes, padre rêgo, fernando pereira, júlio césar, nenhum será convidado.

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 7

90 anos depois, Fátima inaugura a maior azinheira da Europa



- É ela?
- Axo que xim!
- Estou a vê-la lá ao fuundo...
- Mas como sabem que é Ela?
- Ora, porque ainda não caiu.
- Abenxoada xantinha jubilosa!
- Cala-te Lúcia, não a assustes!
- Demasiado tarde. Já esvoaçou...


Luis, inquilino do vida breve

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 6

Nossa Senhora Fátima


Visitar o café do bairro onde vivo a um dia de semana de manhã começa a tornar-se fundamental. A um dia do 13 de Outubro, é uma trip bestial ver o programa da Fátima Lopes e a turba de senhoras domésticas e reformados solitários que ainda não receberam o prometido telemóvel em pose de adoração pós-moderna à televisão e aos seus deuses (e Fátima, a Oprah branca e brega, é uma espécie de divindade menor para esta gente). Grita-se muito, nestes belos magazines matinais.
Grita a Fátima, gritam os assistentes, gritam os convidados, gritam os repórteres de rua a entrevistar o Zé Manel que nos fala da Suíça e manda um beijinho a toda a gente lá em casa, lágrima ao canto do olho, caniche ao colo e bandeira do Glorioso numa mão, que a fé católica pode ser perfeitamente compatível com a crença sobrenatural numa entidade que ultrapassa qualquer santinho, vidente ou virgem: o Benfica. Há razões perfeitamente válidas para a gritaria: as velhinhas deste país agradecem não terem de se levantar para aumentar o volume do aparelho – entre a surdez e a artrite, não é fácil a vida de um fã de Fátima Lopes.Um servente de pedreiro, emocionado, relata o último milagre da Senhora:- Eu não via o meu sobrinho, vá lá, afilhado, há p'raí trinta, bem, foram vinte, quer-se dizer, dez, ou seis ou sete, e encontrei-o, por acaso, numa missa ontem, à uma da manhã, estava atrás de mim, acredite (pausa para limpar a lágrima, o repórter diz: amigo, tenha calma. Respire fundo, se não, não se percebe nada), acredite, Nossa Senhora foi quem fez isto, mando um beijinho para a minha filha de seis meses, e à minha esposa, que é belga, estou muito comovido...Corte para a Fátima, passagem algures ao Algarve, onde se encontra Marco Paulo, que deve a vida à intervenção de Nossa Senhora:- Foi graças a ela (mão no peito, rosto sofrido, olhos por detrás dos óculos escuros raiados de lágrimas) que recuperei da minha doença, devo-lhe tudo, daqui de onde estou, agradeço, que ela está aqui, a Nossa Senhora não é de Fátima, é do mundo, é do povo.Regresso ao estúdio, alguém vai cantar, daqui a pouco publicidade e depois voltamos a Fátima, onde os milagres podem acontecer. Não vale a pena procurar explicações para o fenómeno de Fátima noutro sítio que não seja o Portugal retrógado de 1917. Que, passados 90 anos, continua tão retrógado como era nessa época. Curiosa é a coincidência da Revolução Comunista tenha acontecido no mesmo ano das aparições. Menos curioso é o facto das aparições terem sido utilizadas como arma política contra a emergência da nova potência comunista, a União Soviética. Imagino que as visões de Lúcia, de um apocalipse liderado pelas hordas de proletários, tenham mais a ver com a hierarquia católica ameaçada pelo ateísmo que o comunismo preconizava (apenas há lugar a um ópio para o povo, o belo ideal comunista propagado pelo Querido Líder), do que com algum cogumelo mágico encontrado pelos pastorinhos e pelo povaréu que se juntou ali na Cova da Iria (embora haja relatos de uma erva-do-diabo que crescia à sombra da azinheira milagrosa). Há árvores que choram, quadros de santas que sangram, cadáveres que não se decompõem, mas é difícil atingir o estado de delírio a que se chegou naquele dia. Tão delirante, tão delirante, que nem a fiável objectiva de Joshua Benoliel (por sinal, um ímpio judeu) conseguiu apanhar o milagre do Sol rodando sobre si próprio (há uma música sobre isto no álbum dos Pink Floyd, em “Piper at the Gates of Dawn”). Fixou-se antes na multidão de devotos de braços abertos em direcção ao céu, rostos crédulos e esfomeados esperando por um milagre que os salvasse da miséria em que viviam. Salazar e a igreja católica encarregaram-se do resto. Fim da história.Noventa anos depois, o delírio entra pelas casas adentro. E, no fundo, entre uma peregrinação a Fátima e uma visita à catedral da Luz não há muita diferença. Cada um dedica-se ao culto que mais lhe convém. E se possível, acumulando. Garantem-se assim maiores possibilidades de salvação. Amén.


Sérgio, inquilino do auto-retrato.

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 5

Respeitem a senhora de 90 anos


Lisonjeia-me este convite para escrever sobre Fátima. No entanto, sou ex-ateia e de Fátima sei pouco. O que sei é sobretudo de cá de casa e dos tempos nos quais, ainda pré-adolescente (há cerca de duas semanas, portanto), quis, ardentemente, ser ufóloga – li, na altura, um livro chamado As Aparições de Fátima e o Fenómeno OVNI. Uma das razões pelas quais deixei de ser ateia tem que ver com o facto de os ateus terem sempre tendência para acreditar em coisas tão plausíveis quanto Deus. Abduções por alienígenas, comunismo, as manifestações da CGTP. Fátima e os seus peregrinos são uma inspiração para a CGTP que arranjou, no santuário de Fátima, o modelo ideal para as suas manifestações, isto se excluirmos o facto de já alguns dos apóstolos terem pinta de sindicalistas. As diferenças mínimas entre os encontros religiosos de Fátima e as manifestações da CGTP são, por um lado, o número de pessoas que verdadeiramente comparece nuns e noutras: nos primeiros, são muitas, nas segundas, parecem muitas. Por outro lado, são importantes as motivações das pessoas. A fé é um bom motivo para ir a lugares, a falta de fé é um bom motivo para ficar em casa – a participar, por exemplo, em fóruns de discussão na Internet ou numa procissão das velas do Second Life (vou vender a ideia). A quem diz que a religião é o ópio do povo assevero que a manifestação é um acto de desespero interior mais intenso do que a oração que, na sua versão não tropicalizada, acaba por ser bem mais silenciosa do que a manifestação. E o silêncio é uma coisa asseada.
Cá em casa há muitas nossas senhoras, todas virgens, todas de Fátima. A minha avó conversa com elas e pede-lhes coisas. Aprendi cedo que uma Nossa Senhora de Fátima tem grande utilidade num lar. Uma pessoa pede uma coisa e espera que a Nossa Senhora de Fátima lha dê. Se der, vai-se à Cova da Iria – nunca a 13 de Maio, porque nessa data aquilo é pior do que o Colombo na véspera de Natal -, deixar uma velinha do tamanho da coisa que se pediu. A gente pede um avião igual ao do presidente de Angola e depois vai lá colocar uma vela do mesmo tamanho, fabricada com parafina da melhor qualidade, para agradecer. A gente quer um baço novo e vai lá depositar um baço de cera, anatomicamente perfeito, feito a partir de um modelo real. Se a Nossa Senhora não der nada, não se vai lá nesse ano e volta-se, naturalmente, a pedir. Pedir é uma coisa bonita, do domínio da fé, que nos aproxima de Deus e dos santos todos. Nós pedimos e eles ficam a saber os nossos segredos. Divertem-se, os sacanas, grandes e pequenos, cada um na sua gavetinha hierárquica. Pedir é bom e é muito universal. Um crente em Fátima nunca reconhece que Nossa Senhora não lhe deu isto ou aquilo porque ele não merecia ou porque o pedido era, simplesmente, impossível de realizar, como um baço novo ou o avião do presidente de Angola. Mas acho bonito que Fátima comece por melhorar a auto-estima das pessoas e nisso também se inspira a direcção de programas da TVI. A gente diz «Minha Nossa Senhora» como quem diz «Doutor, preciso de ajuda», e está o caso arrumado. Pedir já faz parte da terapia.
Tentaram ensinar-me, muitas vezes, que não se brinca com a fé. Como se brincar não fosse a única maneira de lidar com a colossalidade de uma evidência. A fé não é a consciência de uma existência superior, nem é sequer a consequência de uma existência superior; é uma evidência maior do que qualquer existência superior. A fé é que é a vida, o resto é filosofia. Nota para os esclarecidos: Fátima não é pior do que uma telenovela, antes pelo contrário.

Tatiana, inquilina da terapia metatísica

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 4

F90


A inauguração da nova Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, deveria contar com um espectáculo sobrenatural de características inéditas nas últimas décadas que, no entanto, não se pôde realizar. Segundo conseguimos apurar junto da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), os contactos entre as autoridades eclesiásticas portuguesas e a própria Dra. Virgem Maria no sentido de preparar o espectáculo foram iniciados há cerca de um ano, mas esse prazo não terá sido suficiente devido aos atrasos no processamento de pedidos de milagres para grandes audiências, que neste momento chegam a atingir os 6 anos.

Os planos iniciais consistiam na produção de uma nova aparição da Dra. Virgem Maria, ideia que, no entanto, foi imediatamente posta de parte devido a dificuldades de agenda da santa, que anda todo este mês de Outubro em digressão pelo Sudoeste Asiático a fazer várias imagens suas chorar lágrimas de sangue. Perante esta impossibilidade, a opção recaiu na repetição do milagre do Sol, que passa simplesmente por provocar movimentos aleatórios deste astro no céu durante alguns segundos. «É uma coisa simples, de curta duração, mas que fica na memória das pessoas e que aparece muito bem na televisão», afirmou um bispo que preferiu não ser identificado. No entanto, e ainda segundo as mesmas fontes próximas da CEP, a Dra. Virgem Maria não tem as permissões necessárias para aceder ao sistema de helioposicionamento e os pedidos, mesmo com cunha, estão muito atrasados devido ao caos que se foi progressivamente instalando nos serviços desde a queda da URSS.

Perante a impossibilidade de produzir um espectáculo de grandes dimensões, a CEP e a Dra. Virgem Maria decidiram-se pela realização de um evento «mais pequeno, intimista e adequado ao espírito de oração e comunhão com o sagrado que ali se vive» e que consistiu «numa ligeira subida da temperatura mínima». A possibilidade de neblina matinal chegou a ser considerada, mas foi descartada por razões que não conseguimos apurar. Já o problema do cheiro deveu-se à sobrecarga do sistema de saneamento básico que, frisou a CEP, é da inteira responsabilidade da Câmara Municipal de Ourém.


Eduardo, inquilino do agrafo

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 3

Percebo agora que não é fácil escrever sobre Fátima.

Já foram feitas todas as piadas possíveis a respeito, e a despeito, da Vossa Senhora. É difícil ser original. É mais difícil ainda superar a maior de todas as piadas. E além de todas estas dificuldades, há a notória impossibilidade de parodiar Fátima sem parecer herege. Como tal, esclareço desde já que não vou tecer qualquer comentário jocoso sobre a Irmã Lúcia, amante secreta de João Paulo II.


Ao invés, vou partilhar os momentos em que a história de Fátima se cruzou com a minha breve existência. Para azar meu e sorte vossa, não tenho muito por onde me alongar. Quis a mão invisível que nos comanda que eu e Fátima não nos tenhamos (tênhamos, se estiver algum jogador da bola a ler) cruzado em demasia. No entanto, certa tarde de Agosto em que viajava nesse inferno que dá pelo nome de Estrada Nacional nº1, quase tinha um encontro imediato com um camião tir, à conta de um grupo de peregrinos à beira estrada plantados, cujas boas intenções não ponho em causa, e que tentaram antecipar a minha subida aos gloriosos céus. Eu, insurrecto e insubordinado aos Seus altos desígnios, evitei a tempo o choque frontal com o Senhor.


Tirando este pequeno quid pro quo, tenho que admitir que gosto de peregrinos. Via-os passar quase todas as manhãs de Queima das Fitas em Coimbra, em antevésperas do 13 de Maio. Em sentidos contrários, acenávamo-nos mutuamente. Eram muitos, apesar de poderem ser apenas metade dos muitos que eu via. E trajavam colete amarelo. Trajaram-no antes de ser obrigatório para todos nós, ateus automobilizados preguiçosos, o que, não os tornando videntes, faz deles evidentes visionários.


E concluo, que isto de roubar espaço na casa dos outros tem limites, com o mais importante. No dia do funeral da irmã Lúcia não fui trabalhar. A multidão era tanta na Sé Nova de Coimbra que não consegui chegar ao Departamento de Zoologia da Universidade, contíguo ao espaço sagrado onde repousavam os restos mortais da vidente de Fátima. (Compreender-me-ão, não podia terminar este texto sem escrever a expressão " vidente de Fátima"). Mas consegui terminar escusando-me a dizer o que penso sobre Fátima. A verdade é que não penso muito no fenómeno. Mas espero que tenha uma longa e saudável vida, que nestes tempos de vacas magras, vai não vai penso em montar um negócio de velinhas e medalhões ao lado do Santuário. Podendo não ser o suficiente para a Salvação da minha alma, parece que dá uns trocos.

FIM


João, inquilino do last breath

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 2

Ver a luz


Os meninos amanhavam-se com os cajados, três bordões de madeira talhados para mãos pequenas, que amassavam a folhagem e eram agitados no ar para apartar as cabras.
Os meninos também gritavam, uns com os outros e com o rebanho, comandando as bestas por entre o terreno bravio. Frio. Chegavam-se uns aos outros, abraçavam os agasalhos, botavam ar quente nas mãos pequenas, o rapaz arrotava as papas de sarrabulho tomadas de madrugada e as raparigas riam.
Os meninos com cajados, a gritar atrás das cabras, marcavam caminho com mijo quente, que mandavam para fora do corpo a tremer, de tempo a tempo. Queriam a caminha, o cheiro a sopa de feijão para o jantar, a latrina das fezes, o papá e mamã a limpar-lhes as remelas com saliva.
Andaram os meninos. Andaram as cabras. Revolveram-se as tripas à hora de manjar e, em rezando o terço ensinado pelas gentes da terrinha, levaram o cu ao chão para trincar o pão, sob a azinheira das pelotas e a luz. A luz. Os meninos puseram-se a olhar para a luz, a luz, que luz, a luz que faltava naquele dia de pastagem que não lembrava ao menino Jesus. As raparigas gemeram, assustadinhas, entrelaçaram as mãos e baixaram os olhos na direcção da merda das cabras. O rapaz peidou-se, mas foi do susto. E os anos passaram. Com os meninos a piarem fino, ajeitou-se a morte em passagem cá por cima e longe das cabras houve trupes de bolcheviques a marchar, marchar. Antes caiu um czar. E os anos passaram.

Sob a azinheira das pelotas e a luz, lembram-se, juntou-se pedra e empoleirou-se a cruz, levaram-se gentes para a bênção do capelão, gentes em ferida de sangue, a chafurdar na poeira. Outros meninos perguntam como é dado a sofrer por gosto nos mistérios da fé. E a luz, alguém viu a luz, a luz, que luz.


Hugo, inquilino do solvstäg

grande gala 'azinheira spoken word', tomo 1

È Finita


Numa das cenas do filme «La Messa è Finita» de Nanni Moretti, o padre (interpretado pelo próprio Moretti mas sem barba) vê uma bola de futebol entrar-lhe pelo quarto adentro. Pouco tempo depois, um miúdo, ao acercar-se dela com o intuito de levá-la de novo para o pátio onde os amigos o esperam e apercebendo-se que o padre olha para ele em silêncio, decide permanecer timidamente à porta, à espera de ser repreendido. Moretti, com a bola na mão, sai então para o pátio e, em vez de vociferar contra as crianças que lhe interromperam o sono, dá uma pontapé na bola, começando a jogar com elas sem dizer palavra. Ao fim de alguns segundos e quatro ou cinco fintas executadas com uma técnica razoável (e sempre sem barba), resvala e cai no chão, permanecendo imóvel, desamparado na sua batina preta de sacerdote. Os miúdos, indiferentes à sua queda, continuam o jogo ainda mais alegres e gloriosamente alheados da presença do padre ali prostrado. Não é só a infância que lhes autoriza a leveza e o esquecimento. Quem já jogou futebol com os amigos sabe que quando alguém se contorce, deitado no meio do campo, há duas preocupações que surgem em simultâneo e que podem ser condensadas noutras tantas perguntas: «será sério?», «podemos continuar?». Não é certo que a primeira silencie a segunda mesmo que o amigo seja próximo e a partida se arraste aborrecida num pavilhão de subúrbio mal iluminado e quase vazio. Isso não significa que o amigo seja, para nós, menos importante do que o jogo - era o que faltava - mas não vale a pena ter vergonha da pergunta. Se Nossa Senhora tivesse aparecido durante o Fátima-Porto para a Taça da Liga (esse descabido milagre), os dois mil pastorinhos da assistência por certo teriam perguntado: «será sério?»; mas também (não duvidem): «podemos continuar?».

Mesmo no fim do «La Messa è Finita» a igreja transforma-se, a meio de um casamento religioso, num inesperado salão de baile com os noivos e os convidados dançando, aos pares, uma canção italiana. A basílica imponente que agora se inaugura em Fátima, engalanada por muitos milhões de euros, quer apenas lembrar-nos que as aparições e a fé são coisas sérias, com alicerces, mármores e joelhos ensanguentados, mas como nos apanham a meio do jogo (peço desculpa por esta metáfora), nós queremos sobretudo continuar. E de preferência, dançando uns com os outros, imitando o filme. Havendo boa música não há amigo que não se levante do chão.


Daniel, inquilino do b-site


aperitif for destruction

caro leitor, ao entardecer não perca a grande gala 'azinheira spoken word' com a participação exacta de mais ou menos 13 bloggers. para aperitivo duas pérolas saídas do website oficial de fátima, que provam à saciedade a superioridade da realidade em relação à ficção [e nesta pequena frase consegui infiltrar uma bonita figura de estilo, a aliteração, apanágio de qualquer blogger que se preze. ou não].

"Capelinha das Aparições: O pedestal, onde se encontra a Imagem de Nossa Senhora, marca o sítio exacto onde estava a pequena azinheira (desaparecida devido à devoção dos primeiros peregrinos que a levaram, raminho a raminho)"

"Muro de Berlim: Na entrada do Santuário, do lado sul, encontra-se um monumento constituído por um módulo de betão do Muro de Berlim (começado a construir na noite de 12 para 13 de Agosto de 1961 e demolido a partir de 9 de Novembro de 1989). Esse bloco foi oferecido por intermédio do emigrante português na Alemanha, Sr. Virgílio Casimiro Ferreira, e aqui colocado como grata recordação da intervenção de Deus, prometida em Fátima, na queda do comunismo."

hipótese académica

e se a maddie aparecesse em fátima?

dúvidas teológicas

pergunto-me se a nova basílica da cova da iria terá pendurada uma daquelas faixas a anunciar makepovertyhistory.org

filme gore

o novo nobel da paz é o mesmo indivíduo que era vice de uma administração que enfeitou os balcãs com urânio empobrecido. que redesenhou um pouquinho à bruta a paisagem de belgrado. que transformou uma fábrica de medicamentos no sudão numa espécie de caldeira para aquecimento central [global?]. por estes dias os ursos polares e as neves do kilimanjaro acabam de trazê-lo para o lado mimoso da força.

doris who?

começa agora o movimento de reconhecimento instantâneo da nova agraciada com o nobel, lida por todos os que também sempre gostaram de râguebi, sempre chamaram tsahal ao exército israelita, sempre chamaram buchmesse à feira do livro da terra das salsichas.

desprestígio

o al gore acaba de ganhar o mesmo prémio que o kissinger.

espaço pub


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strummer




deus está a chegar aos nossos ecrãs.


a filosofia à solta na linha verde do metropolitano

– para se ser biólogo é preciso ser-se maluco.
– assim tipo drogado?
– não, tipo maluco.
– para se ser um bom biólogo é preciso é ser-se uma seca.
– tenho um prof que diz que um bom biólogo não deve saber distinguir uma alface de um elefante.
– grande biólogo, se não sabe distinguir um elefante de uma alface. até em termos moleculares são diferentes.
– isto é filosófico, pá.

literatos imperfeitos # 5, featuring joyce carol oates

Ruca está tomado de amores por rapariga negra, rapariga branca. com duas personagens principais chamadas geena e minette é um sonho de criança que se cumpre.

wolf like me

há uma coisa que me intriga na relação dos nossos media e da populaça leitora em geral com o lobo antunes, aquele que escreve, o fanfarrão com pouca noção de si próprio acarinhado como um são bentinho da porta aberta, tal é o corrupio de gente de gravador em punho que lhe entra pela casa dentro de cada vez que lança mais um tijolo de descaramento à cara dos portuguesinhos que ele tanto gosta de dissecar. não se trata tanto da aura de ex-combatente que o legitima social e literariamente, coitado do senhor doutor, viu muito sofrer e ganir, tantos milhares que vieram com os miolos fodidos e a esses acarinham-nos as tiradas populistas do portas no meio das promessas de pensões e dos e vivas à pátria que era tão grande com os pretos debaixo do calcanhar e agora parece do tamanho de uma toalhinha de praia. também não me intriga muito a complacência com a fanfarronice, nome pelo qual também é conhecido o síndrome de ministro da informação iraquiano [vide o caso josé mourinho, indivíduo com melhores resultados e menos referências a naperons e a minas anti-pessoais, e prometo não interromper mais para compromissos futebolísticos]. o que me desconcerta mesmo é a pretensa pose de submisso do autor à entidade imaterial LIVRO, que nas palavras do lobo, repisadas nas últimas 157 entrevistas exclusivas que deu, ou melhor, concedeu aos restantes mortais, o tiraniza, o subjuga, sendo que o resultado da sua prosa é o resultado daquilo que o livro lhe comanda, a mão limita-se a seguir o que está determinado, cheira-me que se houver alguma repartição dos clichés literários isto deve andar pela gaveta 23 da secção b. a fazer fé neste modus operandi quer-me parecer que o método literário do lobo, glosado e incensado ad nauseam, é uma espécie de versão blasé do método alexandra solnado. sucede apenas que o lobo vai a vernissages com passadeira vermelha e jantares com 18 talheres. a alexandra, injustiçada, fica-se pelos programas da tarde na tv, mas garanto-vos que o jesus não trata o lobo por cabrita e essa superioridade moral e imaterial já ninguém lha tira.

há algo de pornográfico na poesia para crianças

amar a natureza
é eu sentir assim
a alegria de a ver
intacta
acesa
dentro e fora de mim

maria alberta menéres in no coração do trevo


vinte discos que eu salvava das garras do ministério para a promoção da virtude e prevenção do vício # 20


hell is round the corner

a fórmula de [a] deus

o problema é mais literário do que político: com a saída da rtp o JRS fica com muito mais tempo para a escrita. o que é lamentável para a história da literatura.

ajudar na desconstrução do mito

ninguém me tira da cabeça que foi o Che que cortou a maddie às postas.

cinefilia de mão estendida

tivesse ele mais umas dezenas de anos em cima e o mendigo de pernas metálicas que assombra a estação da baixa-chiado poderia ser o david cronenberg.

só faltava terem executado o assalto ao som do nel monteiro

seis assaltantes levaram caixa multibanco da moviflor de corroios.

Público, sem link

lisboa em baixa resolução # 184


santo procura colaborador (m/f)


Ruca abandona o irmaolucia e dá uma perninha no vocabulário dos bloggers à direita

“Como se prova pelas reacções à capa da Atlântico deste mês, a esquerda continua a não tolerar que se toque nos seus filhos da puta (...)".

agora sei como os forcados tratam os toiros e assim.

a galinha da minha vizinha é sempre melhor do que a minha # não sei quantos

© rabiscos vieira

sugestão editorial
. estreado no sítio do costume.


sim, concedo, o desparecimento da menina inglesa é angustiante mas

alguém me sabe dizer onde anda o pequeno martunis?

vinte discos que eu salvava das garras do ministério para a promoção da virtude e prevenção do vício # 19


temptation

aviso à copulação

o miguel mudou de poiso. e fez um lifting visual que só o favorece.

the inner accent of martin frost

o auster é sopinha de massa. se eu tivesse fechado os olhos parecia que a premiere estava a ser conduzida pelo lula da silva.

foda-se mais à parada

obrigado filhos da puta da sic generalista, notícias, mulher, radical, brochista e o caralho que vos foda a todos por me terem cortado o trânsito na avenida, por me terem inutilizado a paragem do autocarro e arruinado o trajecto para o trabalho, sim, que aqui o meco labuta ao fim-de-semana, não pode ir pular com os anormais, com os freaks imitadores de florimerdas, com as famílias de excursão com jovens de crucifixo de plástico ao pescoço e pavor pela higiene oral e depois, no regresso do labor, o autocarro que se me fica na brancaamp, porque o caralho da parada ainda dura, o resto do caminho a pé pelo chão que ribomba ao som da foleirada, lixo, barulho e odores da subúrbia, separadores de tv com a história do país que só eles contaram, com imagens da snu, para emprestar uma classe de plástico, ou de uma tipa a mamar da teta de uma cabra, para dar realismo escatológico a esta merda que eles chamam de aniversário, ou lá o que é.

afinal, sempre gostei mais de carne

país à beira-mar plantado, com a alma em águas de bacalhau e um primeiro que discursa em púlpito pescanova.

amizades imperfeitas # 61

Sandro anda entusiasmado com a extensão do domínio da luta, Ruca também concorda que se alarguem os espaços para os combates de pitbulls. é tudo muito acanhado.

can hardly wait



pela chegada do barbeiro


5 de outubro

© rabiscos vieira

queres monarquia? toma. e viva a república.

vinte discos que eu salvava das garras do ministério para a promoção da virtude e prevenção do vício # 18



kool thing



o brutamontes no seu labirinto

tenho a mesma má relação com a poesia que tenho com as iscas. desagrada-me a textura.

há tradições que não importa manter

rezo para que, ao contrário de há uns anos atrás, as senhoras de são bartolomeu de messines não resolvam enfrentar as suas dificuldades saindo para as varandas de mamas ao léu, pois desconfio que isso fará tudo menos enterrar a linha de muita alta tensão.

free burma



ditadores e ainda por cima militares. foda-se, um mal nunca vem só. é favor participar.

alan greenspan em lisboa

espero que daqui a 90 anos não estejam a dedicar-lhe uma basílica.

se puder adopte um skinhead

hoje é dia mundial do animal.

distracção é o meu nome do meio

ao longo da minha existência tenho perdido um bocado de tudo, tempo, oportunidades de estar calado, objectos materiais tais como 657 lápis de carvão, 117 chapéus de chuva, carteiras, três ou quatro compassos com direito a puxão de orelhas, dinheiro, autocarros, casacos, um par de botas doc martens, entre muitas outras tragédias. reconheço portanto que sou um cabeça no ar, mesmo correndo o risco de ser confundido com aquele super-grupo saloio de música ligeira à portuguesa. em tempos de blogosfera o problema continua e só por estes dias é que dei pela existência d'o regabofe, o que é uma lástima. agora lambuzo-me nos arquivos e no que há-de vir e é se quero. para tal criei um link na barra da direita, a fazer as vezes de lembrete, a ver se aprendo a manter a concentração.

pires de lima, o homem que queria um partido sexy e que apostou numa empresa profundamente sexual

têm dado brado algumas campanhas da unicer/super bock, que colocam a tónica do seu discurso comercial na anatomia feminina: mamas, rabos e coninhas, entre outros petiscos a adornarem o fino. as acusações de machismo brega choveram. ou gotejaram, vá. ok, caíu uma ou outra pinga de repulsa, nomeadamente aqui neste barraco quase sempre alerta. sucede que, inesperadamente, tudo mudou. ao encerrar uma das suas três unidades de produção em portugal a unicer mostrou que consegue enrabar 64 trabalhadores de uma só vez, sem fazer qualquer distinção de género. super quê? perdoai mas eu continuo a preferir sagres.

amizades imperfeitas # 60

Sandro delira com a presença de Vesselina no palco do S. Carlos, Ruca acha estranho que se besunte o mangalho para a sodomia em cima das tábuas de um teatro nacional.

de putin e outros demónios

o vladimir que não quer largar os cargos e o estardalhaço que caíu que nem uma bomba no ocidente, nos ocidentes, digo, para englobar portugal, país onde certo e determinado indivíduo saíu directamente de dois mandatos com maioria absoluta para uma candidatura à presidência, parece mentira a lata, ainda bem que esse indivíduo foi posto no seu lugar pelos vigilantes da democracia e nunca mais chegou a cargo nenhum do estado. ou não?

mÚSICA & dESIGN


too much guinness will kill you


arquivos da memória

ouço falar na doença da língua azul e lembro-me imediatamente de ter andado a chupar no Fa nos anos 80, sem nunca ter tido uma embolia por causa disso. é obra.

a galinha da minha vizinha é sempre melhor do que a minha # não sei quantos


a sucessão de putin. inspirado aqui, estreado ali.

a prequela do senhor comissário



espaço pub # 2, engraxando o patronato


paul auster vai estar na bulhosa de entre-campos no próximo dia 4, ao meio-dia. fiel ao seu universo, por coincidência, vou estar a trabalhar noutro espaço da mesma gerência e não posso lá estar. mas ide, ide com fé e confiança.

espaço pub


há novidades no beco das imagens. as miúdas engalanaram-se e abriram uma galeria virtual estreada com o richard câmara. e não, o pobre desgraçado nada tem a ver com a CML. ou com as andanças da SOMAGUE, entre outros assuntos enfiados na gaveta e assim. a ver. já.